Um botão para "mutar" jornalistas, uma votação popular para escolher os credenciados ou códigos de vestimenta são algumas das ideias provocativas do porta-voz do presidente da Argentina Javier Milei para as coletivas de imprensa na sede do governo.
Quando uma jornalista perguntou a ele na quarta-feira (5) sobre relatos na mídia de que o governo estava avaliando instalar um "botão" nas coletivas, o porta-voz Manuel Adorni respondeu rindo: "Não seria ruim, mas não estamos pensando... Poderia ser, li a matéria e talvez eu pegue a ideia do botão de mutar quando eles exagerarem um pouco."
"Agora, eu mutaria você, por exemplo", prosseguiu Adorni, sorrindo. "Essa conversa é bizarra, mas vamos tê-la [...] Sim, acho divertido, sei lá, ter um botão."
Adorni disse que considera essa e outras ideias para que "a sala de imprensa seja cada vez mais profissional, estejam mais confortáveis e sejam ouvidos". "Dentro disso deve estar a liberdade de expressão", esclareceu.
Ele também falou sobre a possibilidade de submeter à decisão popular quais jornalistas participam das entrevistas coletivas.
"Estamos pensando em algum esquema onde os jornalistas sejam escolhidos pelo público. Quem fica e quem não fica. Para que o público se sinta representado, se sinta informado", declarou Adorni. Entre risos, comentou que funcionaria "como um Big Brother jornalístico".
Entre outras mudanças, também paira a ideia de impor etiqueta de paletó e gravata para os jornalistas e a abertura à participação de youtubers e streamers nas coletivas do porta-voz.
A relação do governo argentino com a imprensa é tensa. Em janeiro do ano passado, o Fórum de Jornalismo Argentino instou Adorni a "manter distância e respeito pelo trabalho profissional dos jornalistas", a não "ridicularizar seu trabalho" e a evitar "insultos, ironias e piadas".
Milei falou mal em várias ocasiões dos jornalistas críticos de seu governo, os acusando de serem "comprados" e os descrevendo como "delinquentes de microfone".
O presidente não realizou nenhuma coletiva de imprensa desde que assumiu o governo em dezembro de 2023 e só concedeu entrevistas a poucos jornalistas.
* AFP