Uma greve que começou nesta quarta-feira (22) em todas as operações da estatal chilena Codelco, a maior produtora de cobre do mundo, gerou uma "alteração", mas não interrompeu o funcionamento da companhia, disse o ministro da Fazenda, Mario Marcel.
"Não há paralisação das atividades. Há alterações no acesso de grupos de trabalhadores a partir da mobilização dos dirigentes", assinalou o titular da pasta em um ato público no qual anunciou o reinvestimento de 30% dos lucros anuais da empresa - que por lei deve entregar todos os seus lucros ao Estado - até 2024.
Convocada pela Federação de Trabalhadores do Cobre (FTC), que reúne os sindicatos da estatal, a greve, que é por tempo indeterminado, foi decidida após o anúncio da Codelco do fechamento da fundição Ventanas, situada na baía de Quintero e Puchuncaví, cerca de 140 km a oeste de Santiago, uma área conhecida como "Chernobyl chileno", por ser um dos locais mais poluídos do país.
Amador Pantoja, presidente da FTC, disse que a paralisação poderia causar um prejuízo de 20 milhões de dólares por dia para a estatal chilena, que produz cerca de 8% do cobre no mundo e é responsável por entre 10% e 15% do PIB chileno.
Mas o ministro Marcel afirmou que, "para que essas cifras fossem corretas, seria necessário paralisar abruptamente todas as operações da Codelco e não recuperar essa produção perdida no futuro, e nenhuma dessas coisas está ocorrendo hoje". O ministro, no entanto, não quis estimar o prejuízo econômico que a mobilização está causando para os cofres da companhia.
Os sindicatos consideram "arbitrária" a decisão do fechamento da fundição Ventanas, anunciada após vários episódios de contaminação nessa região, onde, há mais de 50 anos, foi criado um polo ambiental. Os trabalhadores exigem que o governo do esquerdista Gabriel Boric invista, através da Codelco, 54 milhões de dólares para que a usina cumpra padrões ambientais mais altos.
- Diálogo com o governo -
Apesar da mobilização, a porta-voz do governo, Camila Vallejo, reiterou em uma coletiva de imprensa que estão abertos ao diálogo com a FTC.
"Vamos seguir com as portas abertas ao diálogo", afirmou Vallejo, que também descartou qualquer "possibilidade de privatização" da Codelco, que foi nacionalizada completamente durante o governo do socialista Salvador Allende (1970-1973).
Apesar dos pedidos dos trabalhadores de revogar a medida sobre a fundição de Ventanas, Vallejo assinalou que o governo está cumprindo seu programa de "terminar com as áreas de sacrifício, avançar para um governo ecológico, com um modelo de desenvolvimento cada vez mais sustentável".
"Temos padrões muito baixos e, se queremos realmente cumprir com nossos compromissos em matéria de proteção ambiental, temos que nos orientarmos pelos padrões" da Organização Mundial da Saúde (OMS), disse a porta-voz.
O fechamento da fundição foi decidido depois de um novo episódio de contaminação do ar em 9 de junho que afetou 115 pessoas, a maioria estudantes, e obrigou o fechamento de escolas na região.
"Não queremos mais áreas de sacrifício" ambiental, disse na sexta-feira o presidente Gabriel Boric. "Como chileno, isso me envergonha", acrescentou, ao anunciar o fechamento progressivo da fundição.
A ONG Greenpeace classificou esta região como "Chernobyl chileno" depois que, em 2018, por causa de um incidente grave de contaminação, cerca de 600 pessoas de Quintero e Puchuncaví compareceram a centros médicos com um quadro clínico atípico: vômitos com sangue, dores de cabeça, enjoo, paralisia das extremidades, além de manchas estranhas na pele das crianças.
* AFP