"Ninguém está seguro em Belarus, especialmente jornalistas", lamenta Evgeniya Chernyavskaya, herdeira do TUT.BY, o principal jornal independente do país, cuja existência está em risco após a prisão de grande parte de sua equipe.
Em 18 de maio, após uma operação, o portal foi bloqueado, os escritórios fechados e 12 pessoas presas, incluindo Yulia, a mãe de Chernyavskaya e vários jornalistas.
Oficialmente, tratava-se de uma investigação de fraude fiscal, mas para Chernyavskaya não há dúvida de que a plataforma online mais popular do país é o alvo da repressão ao movimento de protesto contra o regime de Alexander Lukashenko.
Chernyavskaya organiza a resistência à distância, a partir de Tel Aviv, declara à AFP a herdeira da plataforma, fundada por seu pai Yuri Zisser, falecido no ano passado.
"Não existe mais liberdade de expressão, nem liberdade de acesso à informação" em Belarus, afirma a empresária de 33 anos, que ficou escondida até a semana passada.
- "Uma ditadura" -
"Belarus é hoje uma ditadura (...), um país perigoso e não só para a mídia, mas para todo o mundo, inclusive para quem sai para comprar pão", diz.
A prisão no domingo do ex-redator-chefe do veículo opositor Nexta, Román Protasévich, após o governo bielorrusso desviar o avião em que ele viajava entre dois países da União Europeia, é um ato deliberado segundo o Ocidente e mostra um agravamento da situação.
"Não ficaria surpreso se nas próximas semanas o governo chegasse ao ponto de cortar completamente a Internet em toda a Belarus", acrescenta.
Até o momento em que iniciaram as manifestações da oposição, o regime bielorrusso já havia tentado no verão passado e no outono controlar a internet por meio de cortes, mas TUT.BY, Nexta e os outros sites e seus usuários evitaram o bloqueio por meio de mensagens criptografadas no Telegram, aplicativo que se converteu em instrumento de mobilização e informação.
Chernyavskaya espera que o avanço da repressão antecipe a queda de Lukashenko, no poder há 27 anos.
- "Como a Coreia do Norte" -
"Quanto mais a situação de Belarus piorar, mais coisas sem sentido, malucas e estúpidas acontecerão, e o regime pode desestabilizar", explica, "caso contrário, será como a Coreia do Norte".
A 2.500 km de Minsk, de seu apartamento em Tel Aviv, "Jenny" Chernyavskaya teme que suas declarações tragam consequências para seus funcionários e eles sejam presos.
Principalmente porque estão nas mãos do poderoso "DFR", o departamento financeiro da comissão de controle do Estado, usado para atacar os opositores do poder.
No entanto, a jovem mãe tenta manter a empresa firme e se concentra dia e noite em seu computador na divulgação de informações e fotos pelas redes sociais.
O portal de notícias, criado há 20 anos com base no modelo do Yahoo e que alcançava 20 milhões de visitantes diários, era até 18 de maio "a principal bússola" para acompanhar os acontecimentos da atualidade no país, afirma a jovem.
O TUT.BY "não é um meio de oposição", insiste.
"Bem, em Belarus não se pode mais falar de oposição: o governo está de um lado e todo o povo está contra".
Por meio de seu site, redes sociais e Telegram, a redação do TUT.BY cobriu extensivamente em texto e imagem as manifestações de 2020 e a repressão, principalmente as prisões e exílios forçados de partidos de oposição e jornalistas.
O que rendeu ao portal sanções judiciais do governo antes de 18 de maio.
Em 2 de março, a jornalista do TUT.BY, Katerina Borisévich, foi condenada a seis meses de prisão por suas revelações sobre a morte de um manifestante após sua prisão.
"As pessoas estavam sendo baleadas na rua e se manifestaram", ressalta Chernyavskaya, que viveu todos esses eventos a partir de Israel, onde vive há cinco anos.
Para ela, em Belarus ninguém é a favor do regime, nem mesmo seu eleitorado tradicional.
"Mesmo a velha que vive nas profundezas do campo não acredita mais em Lukashenko", finaliza.
* AFP