Convivo muito com mulheres. Sou agraciada pela vida por poder desfrutar de companhias femininas em todos os ambientes nos quais estou, on e offline. E, em verdade, eu grito: belas criaturas você criou, hein, universo. Meus parabéns!
Um dia, numa entrevista, um estudioso, que não lembro quem, disse que as mulheres foram os primeiros seres a serem escravizados em nome da propriedade. Isso vai ao nosso mil avô. Gerações e gerações se passaram e, cá estamos, lutando por liberdade. Enquanto a sociedade, ainda baseada em masculinidade e posse, tenta, incansavelmente, nos dominar.
Criam artimanhas finíssimas, elaboradas com requinte, para nos manter dentro de suas prisões invisíveis. Quando, lá atrás nos viram saindo de casa e optando pela maternidade ou não, se doeram. Criaram padrões de comportamento e beleza. Se não dominavam mais nossos corpos, almejavam encarcerar nossos espíritos. Eles tentaram, quase conseguiram.
Ainda carregamos as amarras de ser criatura de outra criatura, ainda arrastamos dias a fio o fardo da necessidade de termos nossa humanidade respeitada, validada. Mas algo vem mudando e é na velocidade de um tornado.
Temos olhado cada vez mais umas pra’s outras e nos reconhecendo. Em nossas dores, alegrias, lutas. Nos vendo em nossa própria sobrevivência. Temos deixado em ruínas os conceitos que inventaram da boa mulher. Eles nunca imaginaram que um dias iríamos nos amar em fraternidade.
Sabe aqueles três quilos que dizem que toda mulher quer perder? Temos pensado cada vez menos neles. Não queremos perder mais nada, já perdemos demais. Minha alma exulta quando vejo uma de nós feliz com seu corpo, acariciando suas dobrinhas na barriga, entendendo que as varizes, cicatrizes, celulites e estrias são sinalizadores do mapa que nos trouxe até a vida que temos hoje.
Tudo isso é muito recente, ao passo que, também, é muito profundo. Estando entre mulheres sempre acho graça sobre a forma exagerada com que nos elogiamos ou nos referimos umas às outras: rainha, diva, maravilhosa, incrível… Isso é uma coisa nossa. E é divina! Essa é a forma com que olhamos para o agoniante submerso da nossa história em comum, e dizemos: sim, cada uma de nós é um ser único e especial, nunca mais deixaremos que nos digam o contrário.
Algo que vejo em recorrência nas minhas andanças, sejam elas por ruas físicas ou web-lugares, é a penosa vida das mulheres reais. Elas, que lidam com o mundo e suas crueldades, o homem e seus monstros. Elas, que nos apontam um caminho melhor. Estão a lidar com o mais assombroso da vida em pé, tendo em si, às vezes, além de muita dor, um fiapo de esperança.
Carregadas, geralmente, com um passado de abuso, sofrimento e desrespeito, seguram seus fiapos. Neles se se agarram com força absurda. E esse fiapo, vira tecido gigante em suas mãos que tecem o amanhã. Delas, de seus filhos e filhas e das mulheres que as acompanham. Assim, vai surgindo uma rede de gente tecendo esperança.
Quando uma mulher muda, o mundo muda junto, sabia?!
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