O presidente republicano Donald Trump afirmou nesta terça-feira (11) que não se deixará deter por juízes "politizados", diante do bloqueio de algumas de suas decisões nos tribunais, em meio a uma tempestade sobre o equilíbrio de poderes nos Estados Unidos.
"Queremos desmascarar a corrupção, e parece difícil de acreditar que um juiz possa dizer: 'não queremos que você faça isso'", declarou Trump na Casa Branca.
"Sempre respeito as decisões dos tribunais e, depois, tenho que recorrer", acrescentou, em um comentário seguido por uma ameaça velada. "Talvez devêssemos prestar atenção aos juízes, porque isso é muito grave", disse a jornalistas no Salão Oval.
Mais cedo, ele demonstrou indignação em sua rede Truth Social contra aqueles que chamou de "juízes muito politizados", que tentam "impedi-lo".
"A democracia nos Estados Unidos caminha para ser destruída por um golpe de Estado judicial", protestou no X seu aliado, o bilionário Elon Musk, encarregado de cortar os gastos públicos.
O chefe da Tesla, SpaceX e X esteve à tarde no Salão Oval com Trump, acompanhado por um de seus filhos.
Um dos principais assessores da Casa Branca, Stephen Miller, comentou no X que, se "um juiz local quer controlar o poder executivo, ele só precisa fazer campanha para ser presidente".
- Bloqueio judicial -
O retorno de Trump ao poder não provocou manifestações multitudinárias de seus opositores e dos democratas, que são minoria no Congresso. Até agora, eles têm tido dificuldades para responder ao fluxo incessante de decretos e declarações estrondosas.
São os tribunais, mobilizados por associações e sindicatos, e os promotores democratas que protagonizam a resistência contra o bilionário de 78 anos.
Os juízes bloquearam, em caráter de urgência, várias decisões do presidente republicano, determinado a expandir seu poder o máximo possível.
Nesta terça-feira, por exemplo, ele voltou a pedir o fechamento da agência de resposta a desastres naturais, a Fema.
Muitos especialistas ressaltam que apenas o Congresso pode tomar uma decisão desse tipo, o que também se aplica à desativação da grande agência humanitária Usaid, que está sendo contestada nos tribunais.
A intenção de Trump de questionar o direito à cidadania por nascimento, garantido pela Constituição, gerou uma batalha legal.
Além disso, os métodos brutais de Musk e dos jovens funcionários de sua comissão de eficiência governamental, chamada Doge, resultaram em uma enxurrada de recursos na Justiça.
Mas o tempo dos tribunais não é o mesmo dos políticos, especialmente diante de Trump, que impôs um ritmo frenético às suas primeiras semanas de mandato.
Será necessário esperar um tempo até que todos esses processos judiciais sejam concluídos, com possíveis apelações que podem acabar na Suprema Corte, de maioria conservadora.
Em uma mensagem no X, o vice-presidente J.D. Vance já afirmou que os juízes não têm autoridade para "controlar a ação legítima do poder executivo".
- "Morte da democracia" -
Trump disse no domingo estar "muito decepcionado" com o fato de um tribunal ter bloqueado o acesso das equipes de Musk ao sistema de pagamentos do Tesouro dos EUA, uma infraestrutura altamente sensível.
"Francamente, nenhum juiz deveria ter o direito de tomar uma decisão assim", comentou.
O senador democrata Chris Murphy reagiu na segunda-feira, em entrevista à CNN, dizendo que "não é exagero afirmar" que o país está vivendo "a morte da democracia".
"A ideia central da nossa democracia é que obedecemos às decisões judiciais", declarou.
Na segunda-feira, pela primeira vez desde a posse em 20 de janeiro, um juiz federal acusou a administração Trump de ignorar uma decisão judicial ao manter um congelamento altamente criticado de fundos federais, mesmo após a Justiça ter ordenado a retomada dos pagamentos.
Resta saber até onde Trump irá em suas críticas ao delicado equilíbrio estabelecido pela Constituição entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.
"É apenas equilibrando cada um desses poderes frente aos outros dois que a inclinação da natureza humana para a tirania pode ser controlada e dominada", escreveu em 1775 um dos pais fundadores dos Estados Unidos, John Adams, que mais tarde se tornou presidente.
* AFP