O presidente do Chile, Gabriel Boric, anunciou nesta sexta-feira (11) a criação de uma Comissão pela Paz e pelo Entendimento para determinar a demanda por terras, eixo do conflito histórico com o povo mapuche na região de La Araucanía, ao final de uma esperada visita de dois dias.
O presidente afirmou nesta região castigada pela violência e com a presença de grupos indígenas radicalizados e autonomistas que a Comissão funcionará a partir de março de 2023, com uma composição "totalmente transversal, que dê garantias a todos os setores".
"Convido todos os atores da região a formarmos uma Comissão pela Paz e pelo Entendimento. Mas, atenção, esta não é uma comissão para fazer diagnósticos, já foram feitos suficientes", acrescentou.
"É uma comissão para seguirmos as recomendações que os organismos nacionais e internacionais fizeram para buscar uma solução para o conflito na região", disse durante coletiva de imprensa.
Ele acrescentou que "será uma comissão com uma agenda aberta, em que todos poderão apresentar seus pontos de vista, mas com um mandato muito específico: determinar com clareza a demanda de terras das comunidades mapuches e propor ao país mecanismos concretos, com planos concretos para saldar e reparar esta dívida que o Estado do Chile tem com o povo mapuche".
O presidente, de 36 anos, reconheceu que é importante estabelecer prazos entre as partes e também advertiu que não será possível "restituir todas as terras".
"Uma vez que determinemos toda a demanda por terra, há algo muito importante a se dizer: não será possível restituir todas as terras, há muitas cidades do sul do Chile que foram construídas sobre terras que antes foram mapuche e estas cidades devem ser preservadas", afirmou o presidente Boric.
Ele disse, ainda, que neste diálogo não devem ficar à margem os direitos daquelas pessoas não mapuche "que há gerações se estabeleceram nestas terras e fincaram raízes".
- Diálogo aberto -
Boric se reuniu com dirigentes comunitários, empresários, autoridades de áreas rurais e deu, inclusive, uma entrevista a uma rádio de Lonquimay, comuna 740 km a sudeste de Santiago, na fronteira com a Argentina, na qual admitiu erros de seu governo na abordagem inicial deste conflito.
Ele reiterou em várias declarações que é preciso fazer o necessário para "isolar quem acredita que a violência é o meio".
A aguardada visita de Boric a esta região, habitada por uma maioria de comunidades mapuche, foi antecedida de uma série de ataques, como incêndios a uma escola e uma igreja rurais, e bloqueios viários.
Inclusive na madrugada de quinta para sexta, quando Boric se hospedou em uma cabana em Lonquimay, foram registrados atentados similares, com a queima de um caminhão e uma casa nesta região, onde parte do conflito se deve à exploração da rica indústria florestal.
Este ano foram registrados ao menos oito mortos na chamada violência rural.
A Coordenadora Arauco Malleco (CAM), uma das principais organizações radicais mapuche, rechaçou esta primeira visita do presidente à região e apoiou as ações violentas.
Na quinta, Boric qualificou de "covardes" os ataques na região.
Em alguns casos são de "caráter terrorista", disse, comparando-os a ações próprias dos nazistas nos anos 1930 e outras da época da ditadura militar no Chile (1973-90) - declarações que foram recebidas na sexta-feira com alívio, e inclusive elogios, pela oposição política.
* AFP