O Parlamento português votou nesta sexta-feira (15) em primeira leitura uma proposta de lei para autorizar o uso terapêutico dos derivados da cannabis, para a alegria dos pacientes que pedem sua legalização.
O texto, apresentado pelo Bloco de Esquerda, foi aprovado graças ao apoio de todos os grupos parlamentares, com exceção do partido de direita CDS-PP, que se absteve.
Era uma decisão muito esperada por pacientes como Paula Cristina Rocha, de 51 anos, que sofre epilepsia e que há pouco mais de um ano começou a tomar, por iniciativa de sua irmã Maria João Rezende, canabidiol (CBD), um dos 60 componentes encontrados na cannabis, que não tem propriedades psicoativas.
"Foi o melhor que me aconteceu. É um sucesso total", disse Paula Cristina à AFP.
Graças a este tratamento prescrito por um neurologista que consultou no Brasil, tem apenas uma dúzia de crises epilépticas por mês, em comparação com as 60 ou 80 que podia chegar a sofrer antes, afirma sua irmã, enfermeira e membro da associação Cannativa, que luta pela legalização da cannabis de uso terapêutico.
A associação "comemora a adoção da proposta de lei, que abre caminho para a cannabis medicinal, mas traz alguns problemas", reagiu nesta sexta-feira em um comunicado.
Os partidários da cannabis terapêutica desejavam que as famílias dos doentes pudessem cultivar a planta ou que o Estado reembolsasse o tratamento.
"Em Portugal, os médicos se negam a prescrever cannabis terapêutico porque os produtos não estão regulados. E sem receita, não temos direito a importá-los. Eu faço isso de todos os modos, mas nos custa muito dinheiro e inconvenientes", explica Maria João Rezende, que obtém o produto dos Estados Unidos, onde é considerado um suplemento alimentar, através do Brasil.
"Sinto-me uma pequena traficante, embora não seja uma droga", diz indignada.
Segundo os resultados de um grande ensaio clínico, publicado em 2017 no New England Journal of Medicine, o canabidiol reduz em 39% a frequência das crises epiléticas em sua forma mais grave.
Portugal concedeu em 2014 as primeiras autorizações para a produção de maconha com fins medicinais destinada à exportação.
* AFP