O transtorno ciclotímico, também conhecido como ciclotimia, é uma condição caracterizada por frequentes mudanças de humor, divididas em episódios leves de depressão e hipomania. Segundo o Dr. José Guilherme Giocondo, psiquiatra da clínica Giocondo Tartari e mestre em Medicina e Neurociências, as oscilações de humor do distúrbio costumam durar cerca de dois anos em adultos e um ano em crianças e adolescentes.
“A ciclotimia é um transtorno de humor raro que atinge, em média, 1% da população. Contudo, a gente pensa que ela é mais comum do que de fato é, pois as pessoas confundem as oscilações de humor normais da vida com as da ciclotimia”, pontua André Dória, psicólogo coordenador do Programa de Tratamento do Transtorno Bipolar da Holiste Psiquiatria.
Subtipo de bipolaridade
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a ciclotimia é considerada um espectro da bipolaridade, pois apresenta características semelhantes. Contudo, a psicóloga Ana Paula Manzolli, especialista em relacionamentos, família, atendimento infantil, distúrbios do sono e psicopatologia clínica, explica que, diferentemente dos tipos 1 e 2 do transtorno bipolar, o transtorno ciclotímico apresenta oscilações de humor mais brandas, mas por mais tempo.
Além disso, o Dr. José Guilherme Giocondo acrescenta que a ciclotimia não apresenta a fase de mania contida nos tipos 1 e 2 da bipolaridade. Por outro lado, seus sintomas oscilam de forma rápida e têm um curto período de estabilidade.
Sintomas da ciclotimia
Os sintomas que envolvem a depressão e a hipomania da ciclotimia podem variar conforme o paciente. Contudo, Larissa Fonseca, psicóloga e doutoranda em ansiedade, estresse, depressão, sono e sexualidade feminina, relata que os sinais mais comuns nas duas fases são:
- Depressão: desmotivação; fadiga; pessimismo; baixa autoestima; alterações no sono e no apetite.
- Hipomania: excitação; impulsividade; autoestima elevada; aumento acelerado da fala.
Causas da ciclotimia
Assim como muitos transtornos mentais, a ciclotimia também não apresenta uma causa específica. Na verdade, ela é considerada multifatorial. Conforme o Dr. José Guilherme Giocondo, a condição pode envolver fatores genéticos, neuroquímicos e ambientais. Nesse sentido, o profissional exemplifica cada um deles:
- Fatores genéticos: histórico familiar de transtornos de humor, especialmente bipolaridade;
- Alterações neuroquímicas: disfunções na dopamina, serotonina e noradrenalina;
- Fatores ambientais: estresse crônico, traumas emocionais e instabilidade na infância.
Relação entre ciclotimia e outras doenças
Segundo o Dr. José Luis Leal de Oliveira, psiquiatra na rede Kora Saúde, caso não seja tratada corretamente, a ciclotimia pode evoluir para bipolaridade, personalidade borderline, transtorno esquizofrênico ou esquizoafetivo. Além disso, pode aumentar o risco de dependência química ou outros distúrbios ocasionados pelo uso de substâncias químicas.
“A ciclotimia não só pode acarretar outras doenças, como é comum que ela venha acompanhada de outras doenças, como ansiedade e transtornos do sono”, acrescenta o psicólogo André Dória.
Diagnóstico do transtorno
A ciclotimia é diagnosticada de forma clínica, isto é, por meio da coleta de informações e avaliação do paciente. “O diagnóstico é realizado por um profissional de saúde mental com base nos critérios do DSM-5. É essencial uma avaliação do histórico emocional do paciente para descartar outras condições psiquiátricas que possam causar oscilações de humor semelhantes”, esclarece Ana Paula Manzolli.
O Dr. José Guilherme Giocondo acrescenta que o profissional de saúde também pode solicitar exames laboratoriais na intenção de descartar causas médicas secundárias que envolvam a oscilação de humor, como é o caso dos distúrbios da tireoide.
Tratamentos para ciclotimia
A ciclotimia não tem cura, porém pode ser controlada por meio de medicação e psicoterapia. No caso dos remédios, o Dr. José Guilherme Giocondo comenta que os estabilizadores de humor e os antipsicóticos atípicos (voltados para o tratamento da hipomania) geralmente são utilizados.
Em relação à psicoterapia, uma das mais indicadas é a Terapia Cognitivo-Comportamental, pois “ajuda a identificar padrões de pensamento disfuncionais e desenvolver estratégias para lidar com as oscilações de humor”, esclarece Ana Paula Manzolli.
Ademais, o transtorno pode entrar em remissão, gerando “maior estabilidade emocional, melhora nos relacionamentos interpessoais e maior estabilidade no trabalho e nos estudos. De modo geral, a pessoa passa a viver de forma mais tranquila e funcional”, pontua o psicólogo Alan Soares Kuchler.
Hábitos saudáveis são grandes aliados
Além de seguir as orientações psiquiátricas e psicológicas, para haver uma melhora no quadro ciclotímico é preciso investir em hábitos saudáveis. “Durante o tratamento é importante que o paciente tenha o sono regulado, pratique atividade física, evite álcool e drogas e mantenha uma rotina estruturada com horários regulados, pois ajuda na regulação do humor”, ressalta o Dr. José Guilherme Giocondo.
Ademais, Larissa Fonseca explica que uma alimentação saudável influencia na produção de neurotransmissores e no equilíbrio dos açúcares no sangue, o que impacta de forma positiva a química hormonal no cérebro, resultando na estabilidade emocional.
Importância da rede de apoio
Outro ponto importante para a melhora do transtorno ciclotímico é a rede de apoio. Conforme Alan Soares Kuchler, os amigos e familiares podem auxiliar por meio da validação emocional, da identificação de padrões e do incentivo ao tratamento.
“Na validação emocional, a rede de apoio, ao entender a ciclotimia e seus impactos, pode ajudar a pessoa a se sentir acolhida, reduzindo o isolamento e o sentimento de incompreensão, muitas vezes presentes. Já na identificação de padrões, auxilia na percepção das oscilações de humor, assim como na identificação de sintomas mais intensos. E, por fim, o incentivo ao tratamento ajuda o paciente a entender a importância de sua inicialização e continuidade”, detalha o profissional.