Quando ouço ou leio manifestações favoráveis à privatização de empresas públicas, ou quando defendem até a entrega das cadeias à gestão privada com objetivo de lucro, posiciono-me com cautela e necessário exame detalhado dos serviços a serem delegados pelo Estado, assim como repito com insistência o questionamento a respeito das razões e necessidades para privatizar. Então, percebo que já privatizaram quase tudo. Não pela via legal e sob as restrições que nossa Constituição impõe, mas pelo assalto, pelo esbulho.
As malas dos milhões de um ex-ministro, as fortunas canalizadas para a corrupção de servidores públicos de todos os níveis de influência e poder, o financiamento espúrio de campanhas eleitorais, o preço de bens e serviços, aviltado umas vezes, exacerbado em outras, a roubalheira geral. Tudo isso é o Estado transformado em patrimônio ilegalmente adquirido por magnatas do mundo dos negócios privados.
O cartel das empreiteiras, decidindo quais vencerão as licitações, em que tempo e lugar, certamente com superfaturamento em todas elas, nada é mais representativo de uma ideia privatista pelo abuso, pelo roubo, igual ao mais grave dos assaltos. Aparentemente, crimes patrimoniais sem violência. Na verdade, praticados na surdina, mas causando danos bárbaros, pois os valores desviados fazem falta à educação e à saúde. Cada criança fora da escola ou cada enfermo sem hospital são vítimas anônimas daqueles senhores engravatados que andam por aí com malas cheias de dinheiro, procurando esconder o produto da a ladroagem.
Não que seja proibido privatizar, mas roubar é crime e pecado. Na legalidade e preservados os interesses da sociedade, não se tratando de funções cuja natureza demonstre serem exclusivas do Estado, por meio de providências como consulta pública e votação qualificada pelo Legislativo, então, sim, podemos conversar sobre a ideia da privatização. Infelizmente, temos assistido a verdadeiras quadrilhas tomando conta de tudo, saqueando o patrimônio do povo. Já privatizaram o que bem entenderam, contra nossa vontade, sem que nos perguntassem ou sugerissem. Privatizar? Talvez, mas jamais pelo esbulho.