Muitos não valorizam os responsáveis pela função. Alguns, acreditam que sejam meros coadjuvantes em uma partida de futebol. Mas, como um jogo seguiria sem a presença delas ou deles? Como seria o andamento de uma partida sem a presença dos gandulas ou das gandulas?
No Estadual de 2016, a Federação Gaúcha de Futebol (FGF) determinou que, a partir daquele momento, apenas elas seriam responsáveis pela reposição de bola nos jogos do campeonato. À época, o então presidente da instituição, Francisco Novelletto, defendeu que o objetivo era promover a imparcialidade no trabalho dos gandulas. De certa forma, também amenizar as reclamações dos clubes por conta das maladragens de quem fazia o jogo andar conforme o interesse do mandante.
Nos jogos da dupla Ca-Ju, as gurias recebem uma remuneração referente a cada jogo. Nas partidas do Juventude, o valor varia de acordo com a competição, de R$ 40 a R$ 50. Nas do Caxias, os valores também ficam na faixa dos R$ 40 aos R$ 50.
A gandula Lara Willenbring trabalha nos jogos do Ju há cerca de um ano e meio. Ela foi convidada para exercer a função e aceitou por gostar muito do esporte. Para "gandular", ela recebeu algumas orientações de dentro do próprio clube.
— Temos recomendações básicas. Então, quem faz o escanteio é a menina que está trabalhando na lateral. A respeito da reposição de bola, eles nos ensinam também. Mas é bem tranquilo — conta.
Mais experiente, Morgana Gavazzoni atua como gandula há cerca de cinco anos. Ela é formada em Educação Física e diz que, quando começou a exercer a função, trabalhava nos dois clubes de Caxias do Sul. Atualmente, atua apenas nos jogos do time grená e concilia a rotina com a profissão de personal trainer.
— Foram passando os anos, eu fui me adaptando mais ao Caxias, a gente começou a criar uma parceria para manter sempre umas meninas fiéis ao clube. Acho que vale muito a pena ser gandula, acaba se tornando um hobby. O domingo só tem graça quando tem jogo do Caxias no Centenário. É até estranho quando não tem. E estar ali, por eu amar muito o futebol e por ter jogado (futebol) durante anos, acaba ajudando a realizar o meu sonho de estar dentro de campo — conta.
Outro benefício da função é poder acompanhar as partidas de perto. Morgana ressalta que há uma diferença em presenciar os jogos de dentro do gramado:
— É um privilégio estar dentro de campo. A gente acaba tendo uma adrenalina diferente, porque os caras estão pertinho de ti. Tem também essa responsabilidade de trabalhar direitinho, porque, querendo ou não, tu influencias no jogo. A sensação é das melhores, porque você acaba, às vezes, trabalhando em jogos grandes. Eu já trabalhei em final do Gauchão. Então, tu tens contato com pessoas que só vê na televisão. É uma sensação muito prazerosa estar em campo nesses momentos — conta Morgana.
Estudante de Farmácia na UFRGS, Lara conta que também se diverte muito exercendo a função. Além da remuneração, ela diz que ganha distração e novos amigos. Mas, infelizmente, nem todas recordações são positivas. Ela diz que já presenciou jogadores falando de forma mais ríspida com outras gandulas, tentando intimidá-las. Além de ter sofrido com o machismo, por parte de torcedores.
— Já ouvi diversos tipos de ofensas, xingamentos, assédio. Geralmente, da torcida adversária, mas já houve da mandante também. Muitas vezes a gente tenta nem prestar muita atenção. Mas, acontece sim, e com muita frequência, infelizmente.
Esta realidade também fez parte das vivências de Morgana. Mas, ela conta que, felizmente, essas situações são raras. Atualmente, ela ouve mais elogios por parte dos torcedores:
— A gente sabe que o futebol é um esporte muito machista. E, também, como somos gandulas, ficamos muito próximas dos torcedores, acabamos ouvindo alguns comentários indecentes, alguns xingamentos, mas com o passar do tempo percebemos que eles estão se acostumando conosco, entendendo que a gente faz um trabalho direitinho, que estamos ali para ajudar o clube e não para prejudicar. Então, acabamos ouvindo alguns elogios de vez em quando também. Mas faz muito tempo que a gente não ouve algo diretamente para nós de machismo. Agora, são mais elogios.
A gandula do Juventude pede que aqueles que frequentam o estádio tenham o mínimo de respeito e empatia e, com isso, entendam que elas estão ali trabalhando.
— Independente de ser contrata pelo Juventude ou por outro time, merecemos respeito, estamos lá trabalhando. Se não tivesse a gente, não teria o jogo. Então, é uma questão de empatia, se colocar no lugar. Quando eu comecei a ser gandula, comecei a reparar em tudo que os jogadores tem que ouvir durante o jogo. Óbvio que estando em movimento constante, eles acabam, talvez, não prestando tanta atenção quanto a gente. Mas esses comentários ofendem e pediria que tivessem mais cuidado com as palavras e empatia com o nosso trabalho — destaca Lara.
Morgana complementa pedindo que haja um entendimento por parte dos torcedores, de que elas estão ali com o intuito único de ajudar o clube.
— Eu diria para esses torcedores que ainda não respeitam, que não conhecem a nossa função dentro de campo, que acabem olhando mais para nós. Estamos ali para ajudar o clube. Todos os jogos, faremos sempre o nosso melhor, para que o clube vença, para que a SER Caxias ganhe. A gente não está ali para prejudicar. E, também, que eles entendam que mulher merece estar dentro de campo, mesmo que seja nessa função de gandula. Nós merecemos o respeito como profissionais — pede a gandula grená.
Ouça o especial da Gaúcha Serra:
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