CORREÇÃO: Ao contrário do informado inicialmente, a comerciante Ivanir Dallemole, não precisou aumentar os preços de produtos vendidos na loja Cia do Pijama, apesar do aumento da matéria prima. A informação incorreta permaneceu publicada das 12h37min de 12 de setembro de 2020 às 7h34min de 18 de setembro de 2020. O texto original foi corrigido.
O ano de 2020 começou para o comércio com uma perspectiva de retomada mais acelerada da atividade econômica, assim como em outros setores. Em março, contudo, a pandemia chegou e obrigou os comerciantes a rever os planos do dia para a noite. Os períodos de lojas fechadas ou restrições no atendimento fizeram com que as metas dos lojistas de aumentar receitas se transformassem em vender o mínimo necessário para manter empregos e o negócio funcionando.
Passados seis meses desde o primeiro caso em Caxias do Sul, a situação econômica segue como a principal preocupação de comerciantes. Somado a isso, a nova realidade impôs uma rotina de limpeza frequente das lojas e monitoramento constante de clientes e funcionários para conferir se todos seguem as regras de segurança.
— É tudo bem mais trabalhoso, tem que ter mais cuidados. Às vezes, o cliente não quer passar álcool, então já perdemos uma venda, porque daí ele não quer entrar. Temos de zelar pela nossa saúde, de nossos familiares e pelo cliente. Se ele quer entrar sem passar álcool, sinto muito, mas não permito. Máscara e higienização de calçado, a mesma coisa. Prefiro perder uma venda do que colocar em risco outros clientes, minhas funcionárias e eu mesma, além dos familiares — relata Ivanir Dallemole, proprietária da loja Cia do Pijama, na Avenida Júlio de Castilhos.
O estabelecimento chegou a ter uma queda de 70% nas vendas. Por isso, a maior preocupação de Ivanir é manter as vendas para também preservar os empregos diante de um cenário em que o cliente quer pagar cada vez menos. Além disso, o custo da matéria prima aumentou e as vendas online também não tiveram o resultado esperado.
— Tivemos que mudar horários e cortar tudo o que foi possível de despesas. Para mim o importante é trabalhar e a gente estar se cuidando — observa a empresária que atua há 20 anos no comércio.
Já a comerciante Shirlene da Rosa, 35 anos, precisou alterar a estratégia de vendas das lojas Daiki, focando mais em produtos para o dia a dia, ao invés de roupas para festas. Com unidades nos bairros São Pelegrino e Madureira, em Caxias, e Flores da Cunha, a rede teve uma queda de 30% nas vendas. O percentual só não foi maior porque a empresa já mantinha contato com clientes via redes sociais e investiu em um site de e-commerce. A administração da plataforma, inclusive, foi uma das tarefas que precisou ser incorporada à rotina, junto com limpeza das lojas de duas em duas horas, uso de máscaras e álcool gel.
— A gente acaba tendo que se adaptar. Vendíamos sonhos e hoje temos que vender conforto. A prática, no meu ponto de vista, não é mais bater perna. É olhar na internet e sair para comprar o produto. Dizendo de uma forma mais clara, acho que o povo gostou de ficar em casa — comenta.
Além das questões econômicas, as preocupações emocionais também fazem parte das tarefas de quem trabalho no comércio nessa nova realidade.
— Como gestora, acalmar os ânimos é tão ou mais desafiador. Estressante não é a palavra. É difícil, mas desafiador. Eu acredito que vai melhorar. Temos que conviver com isso, então que seja da melhor forma — observa.
Início coincidiu com a pandemia
Para Juliane Nunes Fantinel, 42 anos, o que já seria um ano desafiador se tornou ainda mais incerto. A loja 4You, de acessórios e presentes, localizada na Rua Pinheiro Machado, no centro, que ela montou ao lado da sócia, Andréa, iniciou as atividades em março, menos de uma semana antes do fechamento total do comércio.
O lado bom de enfrentar a pandemia no início do negócio, é que já não havia grandes expectativas de receita. O estabelecimento também não possui funcionários.
— Esperávamos vender mais, mas não estamos tendo prejuízo e conseguimos pelo menos pagar as contas. Claro que tivemos uma redução de 50% no aluguel, o que nem todos tiveram. O que mais atrapalhou foi a restrição da bandeira vermelha, quando precisava ficar na porta — revela a empresária que antes trabalhou por 20 anos na indústria.
Apesar dos resultados não serem tão negativos em relação a outros estabelecimentos, a situação econômica é uma preocupação atualmente.
— Muitas pessoas tiveram redução de salário. Tem que ter bastante ânimo e positividade. Eu acredito que é coisa passageira, como é início, já esperávamos dificuldades e os brasileiros já estão acostumados a viver em situações assim — avalia Juliane.
Medidas de segurança viraram hábito
O uso constante de máscaras e álcool gel, ainda incômodo para muitas pessoas, virou um hábito para as comerciantes ouvidas pela reportagem, ainda que tenha que ser assim durante toda a jornada de trabalho. Além disso, embora mais tarefas tenham sido adicionadas à rotina, com a limpeza dos espaços, a menor circulação de clientes compensou o trabalho adicional.
— Sobrecarregou um pouco porque estamos com o mesmo quadro de funcionários, mas estamos conseguindo fazer com tranquilidade — destaca Ivanir Dallemole.
Isso não impede, porém, que as empresárias torçam para que a vida volte ao normal. Ainda que ela não seja exatamente como era antes.
— Que termine logo, porque ninguém aguenta mais. É máscara, todo mundo preocupado com a economia, falta matéria prima — lamenta Ivanir.