Havia um tempo em que as pessoas desciam menos ao Litoral para a virada do ano. Havia um tempo em que Caxias do Sul e as cidades bombavam no Réveillon. As pessoas ficavam mais nas cidades. Nem faz tanto tempo assim. As ruas não restavam vazias, havia espocar de fogos bem mais estridente e luminoso, as festas fervilhavam depois da meia-noite. Houve esse tempo...
Mas nada do que foi será do jeito que já foi um dia, ensinava Mestre Lulu em um clássico dos Anos 80. Também era outro tempo musical, quando a oferta sonora não esgotava as músicas em apenas um ou dois estilos... Diversidade é tudo.
Voltando ao início, falava-se de um tempo em que as pessoas desciam menos ao Litoral para a virada do ano. Provavelmente, faltasse dinheiro. Nesse meio-tempo, aumentou o poder aquisitivo de camadas da população. As praias não ofereciam as programações de Réveillon que hoje oferecem, a Rota do Sol não estava concluída. Se bem que o pessoal da Região Metropolitana não precisava da Rota do Sol e hoje também vai mais ao Litoral do que ia antes. Não tem muito a ver com a Rota, portanto. Há uma combinação de fatores que vão se formando e, aos poucos, faz surgir uma onda. É assim que surge uma onda.
Onda tem a ver com o subjetivo, com os comportamentos, as atitudes, as tendências, as escolhas, as preferências. A tecnologia, que chega forte, não é uma onda, é materialidade, é infraestrutura, veio para ficar. O que se faz com ela, sim, fica sujeito ao sabor das ondas. Com os smartphones, veio a onda das redes sociais, da instantaneidade, atropelando, para quem se deixa atrapalhar por isso, até as relações verdadeiras.
Assim surgiu também a onda que pôs fim ao regime militar, a onda da social democracia, a onda da esquerda no poder e agora, a onda da direita de volta, uma direita com todo jeito de direita ferrenha. Fala até em combater o comunismo. A onda, nesse caso, são as condições políticas. Tudo decorre de uma combinação de fatores, com causas bem concretas.
São ondas mais longas, mas ondas. Ninguém se iluda. Logo mudam, e vem outra a substituí-las. A onda dos que começam a fugir das redes sociais enquanto plataforma ao que é improdutivo e intolerante já se formou, e vai crescer, como tendência invertida do que vimos há pouco.
Portanto, mais dia, menos dia, haverá de surgir uma nova onda, e o Réveillon volte a se espraiar com força não apenas no Litoral. Afinal, a vida vem em ondas como o mar... Só tem mais um detalhe, nos lembra Lulu: num indo e vindo infinito. Ainda bem.