"Titã da literatura", "monstro das letras" foram alguns dos adjetivos com que os leitores peruanos definiram com tristeza, nesta segunda-feira (14), a figura do Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, que faleceu no domingo em Lima, aos 89 anos.
O impacto também pôde ser sentido nas livrarias de Lima, algumas das quais abriram suas portas colocando em destaque sua fotografia e as principais obras do prolífico escritor, nascido em 1936 em Arequipa, cidade no sul do Peru.
As homenagens de livreiros e leitores podiam ser vistas nos arredores do parque central do distrito de Miraflores, onde Vargas Llosa ambientou seus primeiros livros no final da década de 1950, como "Os chefes e os filhotes".
"É uma grande perda para o Peru, para o mundo", disse à AFP Maryori Otera, de 25 anos, administradora da livraria Crisol, localizada em frente ao parque.
Essa área faz parte da chamada Rota Vargas Llosa, um passeio turístico realizado mensalmente para visitar os locais que inspiraram algumas de suas obras.
Nas vitrines da Crisol estão expostas obras como "A Guerra do Fim do Mundo" e "Conversa na Catedral".
"Vargas Llosa e sua obra me ajudaram muito a compreender melhor a identidade do peruano e a descobrir essa identidade mais fortemente em mim", disse à AFP Guerli Peralta, um eletricista que visitava a livraria impactado pela notícia.
"Seu legado artístico é imenso, ele é um escritor titânico", destacou à AFP o poeta Fernando González-Olaechea, para quem é "impossível não sentir uma profunda tristeza" pela morte do romancista.
"A morte de Vargas Llosa é a morte de um espaço íntimo em cada um dos leitores que ele teve", acrescentou, enquanto comprava na livraria El Virrey, em Miraflores, o romance "A Casa Verde", com o qual Vargas Llosa recebeu o Prêmio Rómulo Gallegos, em 1967.
- A casa vazia -
Na rota turística Vargas Llosa, a pequena casa onde viveu com sua esposa e tia Julia Urquidi, na rua Porta, no distrito de Miraflores, ocupa um lugar especial.
Os dois se casaram e se instaram ali em 1955, na residência que agora se encontra vazia.
Essa relação seria, mais tarde, fonte de inspiração para seu romance "Tia Julia e o Escrevinhador".
"Eu o vi há pouco tempo, ele veio com [o filho] Álvaro", declarou à AFP Jaime Suárez, de 76 anos, que vive em frente à casa desde 1990.
Seu relato se entrelaça com o que foi a vida discreta de Vargas Llosa, que passou os últimos meses de sua vida visitando, de mãos dadas com seu primogênito, os lugares em Lima que o motivaram a escrever suas obras.
"Eu lembro de Mario Vargas Llosa como um monstro da literatura latino-americana e mundial, e o mais marcante para mim foi o romance Pantaleão e as Visitadoras", disse à AFP Óscar Trelles, um funcionário de 60 anos que observava as capas dos jornais com as fotos do escritor.
Enquanto os leitores o evocam por meio de suas obras, no Colégio Militar Leoncio Prado, sobre os penhascos de Lima voltados para o oceano Pacífico, onde Vargas Llosa estudou e ambientou "A Cidade e os Cachorros", os cadetes prestaram homenagem formando fileiras humanas com as iniciais do Nobel de literatura: MVLL.
* AFP