Um novo surto de violência de gangues deslocou mais de 60 mil pessoas em Porto Príncipe, capital haitiana, em um mês, anunciou a Agência das Nações Unidas para as Migrações (OIM) nesta terça-feira (18).
"Esse aumento preocupante no deslocamento destaca o ciclo implacável de violência que assola a capital haitiana e nunca vimos um número tão alto de pessoas deslocadas em um período tão curto de tempo", disse o chefe da OIM no país, Grégoire Goodstein, em um comunicado.
A OIM disse à AFP que duas ondas separadas deslocaram mais de 42 mil pessoas entre 14 de fevereiro e 5 de março, e depois mais de 23 mil pessoas entre 11 e 17 de março. Quase 3 mil pessoas foram deslocadas em ambas as ondas.
Este é um "recorde" desde que a organização implementou um sistema preciso de rastreamento de movimentos na capital, em 2023.
Com esses dados, já são mais de um milhão de deslocados no país, número que triplicou em um ano.
"Famílias estão sendo desalojadas repetidamente, forçadas a deixar tudo para trás enquanto fogem em busca de segurança", disse Goodstein, alertando que a "situação piora a cada dia e, sem mais ajuda", há "o risco de testemunharmos uma catástrofe humanitária ainda maior".
Haiti, o país caribenho mais pobre das Américas, sofre há muito tempo com a violência das gangues criminosas acusadas de cometer assassinatos, estupros, saques e sequestros para obter resgate, em meio à instabilidade política generalizada.
No entanto, "nos últimos dois meses, a situação de segurança se deteriorou ainda mais na capital, com uma escalada de ataques contra a população civil, reduzindo as poucas áreas que não estavam sob controle de gangues e forçando deslocamentos forçados repetidos e sem precedentes", disse a OIM, observando que a capital está "sob cerco".
As gangues, que há anos semeiam a violência em Porto Príncipe, onde controlam cerca de 85% do território, segundo a ONU, intensificaram os ataques nos últimos dias em vários bairros que antes não estavam sob seu controle, semeando o terror entre a população.
A situação continua piorando, apesar da mobilização parcial da Missão Multinacional de Apoio à Segurança (MMAS), liderada pelo Quênia, para ajudar a sobrecarregada polícia haitiana.
A missão, autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU, agora inclui cerca de 1.000 policiais de seis países, ainda longe dos 2.500 planejados.
* AFP