A Organização dos Estados Americanos (OEA) elegerá na segunda-feira o sucessor de Luis Almagro como secretário-geral para os próximos cinco anos, em um continente profundamente polarizado politicamente.
Há um único candidato: o chanceler do Suriname, Albert Ramdin, depois que seu par paraguaio, Rubén Ramírez Lezcano, desistiu da disputa. No entanto, nada impede que um novo aspirante se apresente, inclusive no próprio dia da votação.
Ramdin precisa obter pelo menos 18 votos do bloco, que atualmente conta com 34 membros desde a saída da Nicarágua. Venezuela e Cuba fazem parte da OEA, mas não participam ativamente da organização.
Até o momento, o surinamês já garantiu apoio não apenas da Comunidade do Caribe (Caricom), mas também de outros países da região, como Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Uruguai, Costa Rica, Equador e República Dominicana.
Ainda não se sabe qual será a posição dos Estados Unidos, especialmente agora que a influência da China se estende até a OEA, onde o gigante asiático é um observador sem direito a voto.
Uma reunião em 2024 entre Ramdin e seu par chinês, Lin Ji, acendeu o alerta, mas ele nega ter o apoio de Pequim.
Washington exerce grande influência na região, não apenas diplomática, mas sobretudo financeira, em um momento de crise orçamentária na OEA.
- "Falta de fundos" -
Caso seja eleito, Ramdin terá que reorganizar as finanças de uma organização cujo principal contribuinte é os Estados Unidos.
A dúvida é o que acontecerá se Elon Musk, o homem mais rico do mundo e figura central de uma comissão de eficiência governamental criada pelo presidente americano, Donald Trump, para cortar gastos federais, decidir intervir na OEA e reduzir o financiamento à entidade.
A situação financeira preocupa o candidato surinamês, que defende um uso mais eficiente dos recursos.
Em fevereiro, ele apresentou ao Conselho Permanente, órgão executivo da OEA, "um plano realista de mobilização de recursos, não apenas em termos financeiros, mas também em termos de colaboração institucional para superar a falta de fundos".
Seu estilo de liderança também se diferenciaria do antecessor.
Almagro, que termina seu mandato em 25 de maio, é conhecido por seu alinhamento com Washington, o que lhe rendeu críticas de diversos países, além de ter enfrentado o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, e o líder chavista da Venezuela, Nicolás Maduro.
- Priorizar "consensos" -
"Talvez o ponto forte de Ramdin tenha sido propor um estilo de governança que privilegie os consensos possíveis entre todos os Estados", explicou à AFP Viviana Krsticevic, diretora-executiva do Centro para a Justiça e o Direito Internacional (Cejil).
Ramdin promete ser conciliador, uma vantagem considerável em um continente tradicionalmente dividido entre direita e esquerda.
No entanto, ele não quer uma OEA paralisada, limitada a discursos bonitos ou protestos estéreis.
Se for eleito, propõe a criação de "equipes de crise e reação rápida para promover o diálogo e o consenso".
Segundo ele, trata-se de agir e ir além de "meras declarações".
As Américas frequentemente enfrentam conflitos políticos cujo denominador comum é "a divisão e a polarização da sociedade", reconheceu Ramdin, que conhece bem a organização, pois já foi secretário-geral adjunto da OEA.
Como solução, ele sugere a combinação de "multilateralismo" e "regionalismo".
"A OEA deve se reposicionar neste momento da história para enfrentar um cenário em constante mudança. Acredito no poder do multilateralismo. Podemos e devemos trabalhar juntos para criar um mundo melhor, já que dependemos uns dos outros de várias maneiras", declarou em fevereiro.
Mas "a proximidade geográfica é importante, e o fomento da paz e da prosperidade começa dentro do próprio bairro", afirmou.
A OEA precisa navegar por relações de vizinhança muitas vezes complicadas, com interesses políticos e comerciais divergentes.
"Existem muitas críticas merecidas à OEA como instituição", reconheceu Krsticevic, "mas acredito que ela desempenhou um papel importante ao apoiar as democracias da nossa região, supervisionando processos eleitorais, promovendo espaços de diálogo e monitorando crises institucionais e golpes de Estado".
* AFP