Os moradores de Moscou reagiram com cautela e indiferença, nesta sexta-feira (28), às notícias sobre a discussão na Casa Branca entre o presidente americano, Donald Trump, e seu par ucraniano, Volodimir Zelensky, apesar de o alto escalão russo ter comemorado o bate-boca.
"Não me interessa especialmente a política", declarou à AFP Dostan, um barman de 19 anos. "Quero que a guerra termine e que as coisas voltem a ser como eram" antes de a Rússia lançar sua operação contra a Ucrânia em fevereiro de 2022, acrescentou.
Yevgeny, trabalhador da educação de 54 anos, confessou que não acompanha de perto a atualidade internacional, mas, no geral, a "dinâmica" lhe agrada. "Gosto de como está evoluindo agora. Me parece que é positivo", acrescentou.
Nas últimas duas semanas, Trump deu uma guinada brusca de 180 graus na política americana em relação à Rússia, o que fez com que a Ucrânia e seus aliados temessem ficar de fora das conversas que o magnata iniciou para resolver o conflito.
Nesta sexta, Trump e Zelensky protagonizaram um tenso bate-boca no Salão Oval da Casa Branca, uma cena sem precedentes na qual o chefe de Estado americano levantou a voz para exigir a seu convidado que fosse "grato" aos Estados Unidos por seus esforços de paz.
Além disso, o magnata chegou a ameaçar "abandonar" a Ucrânia se Kiev não fizer concessões à Rússia como fórmula para superar o conflito. Depois disso, Zelensky deixou prematuramente a Casa Branca.
Após o bate-boca, a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, considerou no Telegram que a maneira em que "Trump e [o vice-presidente JD] Vance se contiveram e não deram um tapa nesse canalha é um milagre da moderação".
"Histórico", reagiu também Kirill Dmitriev, um dos negociadores russos nas conversas russo-americanas sobre o conflito em 18 de fevereiro na Arábia Saudita.
Mikhail, um engenheiro moscovita de 57 anos, considerou que Trump e Zelensky têm "personalidades tão fortes que provavelmente não podem conversar com calma e maturidade, como dois dirigentes sérios".
"A verdadeira política ocorre nos bastidores", garantiu. As declarações públicas de Trump "contam para outro público, mas não para mim".
Aliana, de 36 anos, espera que, apesar das diferenças, se chegue a um "denominador comum" para resolver o conflito na Ucrânia, e "que isso seja benéfico" para a Rússia.
A relação entre Kiev e Washington, até há pouco seu aliado, ficou tensa no último mês, chegando ao ponto de Trump chamar Zelensky de "ditador" na semana passada e adotar a retórica do Kremlin sobre a origem do conflito.
* AFP