O autor das facadas que quase mataram o escritor Salman Rushdie em agosto de 2022 se sentará no banco dos réus nesta terça-feira (4) para ser julgado por tentativa de homicídio e agressão em um tribunal no norte do estado de Nova York.
O julgamento começa, de acordo com o Tribunal do Condado de Chautauqua, na cidade de Mayville, com a seleção de 12 jurados.
O julgamento deve demorar um mês e o escritor é aguardado para prestar seu testemunho.
O libanês-americano Hadi Matar, hoje com 27 anos, que mora em Nova Jersey, esfaqueou o escritor no rosto, no pescoço e no abdômen quando ele estava prestes a dar uma palestra na Chautauqua Institution, diante de mil pessoas, em 12 de agosto de 2022.
O agressor também foi acusado em julho por um tribunal federal de tentar fornecer apoio material ao movimento xiita libanês Hezbollah, que é ligado ao Irã e listado como um grupo terrorista.
De acordo com a acusação, o jovem tentou conscientemente "matar e mutilar, cometeu uma agressão que resultou em lesões corporais graves e uma agressão com uma arma perigosa", segundo a acusação.
Matar, que se declarou inocente da tentativa de homicídio, está detido na prisão de Mayville sem direito a fiança.
- "Apenas algumas páginas" -
Nascido na Índia há 77 anos, o autor de "Filhos da meia-noite" e "Os versos satânicos" sobreviveu a uma dúzia de facadas infligidas por Matar após semanas de luta entre a vida e a morte, mas perdeu um olho.
Uma fatwa (decreto religioso) emitida pelo então líder supremo do Irã, o aiatolá Ruhollah Khomeini, após a publicação de "Os versos satânicos" em 1988, sua obra mais famosa, pairou sobre o escritor por mais de 30 anos.
Em um livro intitulado "Knife" (Faca), publicado em abril do ano passado, Rushdie contou como superou o ataque e teve uma conversa imaginária com seu carrasco, cujo nome ele não menciona, sobre suas crenças e motivações.
No livro, Rushdie lembra que o "imbecil que imaginou coisas sobre mim", como ele chama o autor da facada, havia lido apenas algumas páginas do livro que motivou a fatwa.
Rushdie foi vítima de várias tentativas de assassinato desde a sentença de morte proferida pelo líder da revolução islâmica iraniana.
Menos sorte teve o tradutor japonês de sua obra, que foi assassinado em 1991, assim como quase 20 pessoas mortas em manifestações violentas na Índia e no Paquistão.
Depois de viver sob escolta por vários anos e na clandestinidade, Rushdie se estabeleceu em Nova York em 2000 e, desde então, tem levado uma vida social intensa.
* AFP