A Autoridade Palestina criticou a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de suspender as sanções contra colonos israelenses extremistas na Cisjordânia ocupada, uma medida que pode levar ao aumento da violência.
Um dos muitos decretos presidenciais assinados por Trump em seu primeiro dia no cargo suspendeu as sanções impostas por seu antecessor, Joe Biden, contra colonos violentos no território palestino ocupado.
"Levantar as sanções contra colonos extremistas os encoraja a cometer mais crimes contra nosso povo", disse o Ministério das Relações Exteriores palestino em um comunicado.
Antes do anúncio da decisão, colonos israelenses atacaram as aldeias palestinas de Al Funduk e Jinsafut, no norte da Cisjordânia, na noite de segunda-feira.
O ministério palestino indicou que "cerca de 50 colonos terroristas mascarados" incendiaram casas e lojas, destruíram veículos e "aterrorizaram civis desarmados".
Ao menos 21 pessoas ficaram feridas nos ataques, que ocorreram "sob a supervisão e proteção da liderança militar e política israelense", disse o ministério.
O exército israelense confirmou o incidente, dizendo que havia "reprimido distúrbios" nas proximidades de Al-Funduq, onde "civis israelenses" haviam "atirado pedras e atacado forças de segurança".
"O exército israelense não permitirá isso", disse o major-general Avi Bluth, comandante da região militar central, que inclui a área dos incidentes.
Os alertas de segurança emitidos pela ONU indicaram que pelo menos 11 incidentes envolvendo colonos ocorreram na Cisjordânia desde que o cessar-fogo em Gaza começou no domingo.
Nesses incidentes, colonos atiraram pedras em veículos palestinos, intimidaram pastores em áreas rurais e espancaram ou atiraram em palestinos.
- Cisjordânia fragmentada -
Cerca de três milhões de palestinos vivem na Cisjordânia, junto com cerca de 490.000 israelenses em assentamentos considerados ilegais pela lei internacional.
O Ministério das Relações Exteriores palestino criticou a recente decisão do ministro da Defesa israelense, Israel Katz, de libertar os colonos de sua detenção administrativa, alertando sobre "tentativas de agravar a situação na Cisjordânia" para facilitar sua anexação por Israel.
Também denunciou a proliferação de postos de controle israelenses e o endurecimento das restrições aos palestinos, causando a "fragmentação da Cisjordânia".
Enquanto isso, grupos israelenses de extrema direita celebraram o decreto de Trump.
O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, um colono, agradeceu a Trump nas redes sociais por seu "apoio inabalável ao Estado de Israel".
As sanções foram adotadas por Biden para conter o aumento de ataques no território ocupado.
A Cisjordânia viu um aumento na violência desde o início do conflito em Gaza, com o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023.
Soldados ou colonos israelenses mataram pelo menos 847 palestinos na Cisjordânia desde o início da guerra, de acordo com o Ministério da Saúde.
Ao menos 29 israelenses morreram em ataques palestinos ou incursões israelenses no território no mesmo período, de acordo com números oficiais.
- Sinal verde -
Ao assinar as sanções, Biden disse que a violência dos colonos da Cisjordânia atingiu "níveis intoleráveis" e constitui uma "séria ameaça" à paz.
Itamar Ben Gvir, ex-ministro da Segurança de extrema direita, que renunciou devido ao acordo de cessar-fogo, também comemorou a decisão de Trump.
"É a correção de uma injustiça de longa data", disse Ben Gvir.
Israel ocupa a Cisjordânia desde a guerra árabe-israelense de 1967 e desde então estabeleceu uma crescente população de colonos no território.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu anexar os assentamentos israelenses na Cisjordânia, mas abandonou os planos diante da pressão internacional e após chegar a acordos de normalização com vários países árabes.
Trump propôs um plano de paz em 2020 que inclui anexações israelenses de partes da Cisjordânia, e seu retorno à Casa Branca reacendeu esse debate.
Moayaad Shaaban, ministro da Autoridade Palestina, disse que o levantamento das sanções "dá o sinal verde aos colonos para cometerem crimes ainda mais sérios".
Por isso, disse temer um "verdadeiro massacre em nossas aldeias".
* AFP