A coalizão de rebeldes liderada por islamistas que lançou uma ofensiva relâmpago no norte da Síria chegou, nesta terça-feira (3), "às portas" de Hama, a quarta maior cidade do país, onde enfrentam o exército apoiado pela aviação russa, informou uma ONG.
As forças armadas sírias relataram "combates ferozes" no norte da província de Hama, e "reforços importantes" chegaram à cidade de mesmo nome, segundo uma fonte militar citada pela agência oficial Sana.
Os rebeldes estão "agora às portas da cidade de Hama", onde já bombardearam alguns bairros, indicou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Colunas de fumaça preta subiram também no céu de Suran, uma localidade mais ao norte, onde imagens da AFP mostraram civis fugindo em caminhões enquanto rebeldes patrulhavam a área.
Na vizinha Halfaya, os rebeldes dispararam foguetes, enquanto outros, em motocicletas, faziam sinal de "V" de vitória ao passar por tanques abandonados pelo exército sírio.
O grupo islamista Hayat Tahrir al-Sham (HTS) e outras facções rebeldes iniciaram em 27 de novembro uma ofensiva relâmpago no noroeste do país, onde assumiram o controle de dezenas de localidades e de grande parte de Aleppo, a segunda cidade mais importante do país.
É a maior ofensiva desde 2020, resultando, até agora, em 602 mortos, incluindo 104 civis, segundo o OSDH, sediado em Londres, mas que conta com uma ampla rede de fontes locais.
Apelos internacionais por uma desescalada se multiplicaram nos últimos dias, após mais de uma década de guerra civil que já causou mais de meio milhão de mortes no país.
- Deslocados -
Hama, no centro da Síria, é uma cidade estratégica por conectar Aleppo à capital, Damasco. Os combates em seus arredores provocaram "uma grande onda de deslocamentos", alertou o OSDH.
O Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha) informou que cerca de 48.500 pessoas, mais da metade crianças, foram deslocadas até sábado.
"Avançamos em direção a Hama após limparmos" as localidades no caminho, declarou um combatente rebelde que se apresentou como Abu al Hadwa al Surani.
O exército sírio, que não ofereceu resistência significativa em Aleppo, anunciou nesta terça ataques a "organizações terroristas, suas posições e bases" em Hama e na província de Idlib, ao norte, com apoio aéreo da Rússia.
O presidente russo, Vladimir Putin, ressaltou a necessidade de dar fim "rapidamente" à ofensiva, durante uma conversa por telefone com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. A Rússia, ao lado do Irã, é o principal aliado de Damasco.
O Irã, por sua vez, disse que avaliará qualquer pedido do governo sírio para enviar tropas ao país.
- "Terror" -
Em Idlib, onde aviões sírios e russos responderam à ofensiva com bombardeios, equipes de resgate trabalhavam entre os escombros de edifícios destruídos pelos ataques.
"Não consigo descrever... o terror que sofremos", disse Hussein Ahmar Khader, um professor que mora na região.
Em Aleppo, rebeldes armados patrulham as ruas, perto da cidadela histórica, ou permanecem posicionados no aeroporto internacional da cidade de dois milhões de habitantes.
Os moradores formaram filas para receber alguns alimentos distribuídos por uma associação.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, que afirmou estar "alarmado com a recente escalada da violência no noroeste da Síria", fez um apelo e pediu o "fim imediato das hostilidades", segundo seu porta-voz.
Os Estados Unidos, que lideram uma coalizão internacional antijihadista na Síria, exortaram "todos os países" a trabalharem para uma "desescalada", assim como a União Europeia, que "condenou" os ataques russos "em áreas densamente habitadas".
O presidente sírio, Bashar al Assad, afirmou que a "escalada terrorista" tenta "redefinir o mapa regional de acordo com os interesses e objetivos dos Estados Unidos e do Ocidente".
A Síria está dividida pela guerra civil em várias zonas de influência, onde os insurgentes contam com o apoio de diferentes potências estrangeiras.
* AFP