O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, defendeu com veemência nesta quarta-feira (27) a gestão do Executivo durante as inundações fatais do fim de outubro e acusou a oposição de "polarizar" a tragédia e "alimentar a desconfiança nas instituições".
A pergunta "é se o Governo da Espanha cumpriu com as responsabilidades e a resposta é que sim, que sim o fez, o fez desde o primeiro momento, segue fazendo e vai continuar fazendo pelo tempo que for necessário", disse o líder socialista ao defender sua administração no Congresso dos Deputados.
O Executivo fez "o que tinha que fazer" diante da catástrofe, que deixou pelo menos 230 mortos, quase todos na região de Valência, completou Sánchez, que acusou a oposição de "polarizar com esta tragédia, instigando o desânimo e alimentando a desconfiança nas instituições".
O governo regional de Valência, comandado pelo conservador Partido Popular (PP), principal legenda de oposição a nível nacional, e Madri trocam críticas pelos erros na gestão das enchentes de 29 de outubro, uma discussão que intensificou ainda mais a já elevada polarização política no país.
Na Espanha, um país muito descentralizado, as competências na gestão de catástrofes correspondem às administrações regionais, mas o governo central pode disponibilizar recursos e até mesmo assumir a administração em um caso extremo.
Há algumas semanas, o presidente da região de Valência, o conservador Carlos Mazón, admitiu "falhas" e pediu "desculpas", mas atribuiu a maior responsabilidade a órgãos como a agência estatal de meteorologia (Aemet), vinculadas ao governo central, e que, segundo ele, não alertaram corretamente sobre a magnitude da catástrofe.
"Peço que não se engane as pessoas, se querem buscar culpados, que os procurem, façam isso, mas não apontando para os servidores e servidoras públicos que cumpriram com seu dever", respondeu Sánchez nesta quarta-feira, ao defender o trabalho da Aemet e de outras instituições públicas.
"Eu não acredito que o sistema tenha falhado", o problema foi que "algumas pessoas (...) que não estiveram à altura de suas responsabilidades, que não entenderam sua responsabilidade ou simplesmente a negligenciaram", afirmou Sánchez em uma crítica a Mazón.
O governo de Valência "tinha a responsabilidade e informações de sobra para cumpri-la", e que se esconda em uma suposta falta de informação para não fazê-lo "é insultar a verdade e a inteligência de todos os espanhóis", afirmou Sánchez.
"É surpreendente, para não dizer outra coisa, que agora de repente o Governo fez tudo bem, que não admite nenhum erro", respondeu Mazón em Valência.
Sánchez "deveria ser o primeiro a pedir desculpas, mas veio dizer que tudo está bem feito e que faria o mesmo novamente, quando houve mais de 200 falecidos", criticou o líder do PP, Alberto Núñez Feijóo.
- Mais de EUR 16 bilhões em ajudas -
Sánchez apoiou a ideia da criação de uma comissão de investigação no Congresso sobre a gestão das inundações, ao mesmo tempo que prometeu "colocar à disposição da opinião pública todas as informações" que possui.
O premiê, no entanto, disse que "ainda não é o momento" para a comissão, porque o desastre de 29 de outubro não completou um mês e a "prioridade" continua sendo a busca de desaparecidos e a reconstrução das áreas devastadas.
As inundações, as mais graves em décadas na Espanha, provocaram grandes danos. A demora no envio de ajuda provocou revolta na região de Valência, onde uma nova manifestação foi convocada para sábado.
Sánchez anunciou um terceiro pacote de ajuda de 2,274 bilhões de euros (2,4 bilhões de dólares, 13,9 bilhões de reais) para "acelerar o retorno à normalidade e a recuperação das áreas atingidas".
Com o novo pacote, o governo eleva a 16,6 bilhões de euros (17,4 bilhões de dólares, 101 bilhões de reais) o valor global de recursos disponibilizados para Valência e as outras regiões afetadas.
* AFP