Rocío San Miguel se preparava para viajar quando foi presa, no principal aeroporto da Venezuela. Desde então, está "há mais de 100 horas incomunicável", denunciaram os advogados da ativista e especialista militar, detida na última sexta-feira por suspeita de conspiração contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
À prisão de Rocío, chefe da ONG Controle Cidadão, que registra violações dos direitos humanos, se seguiram as de cinco de seus parentes, o que Juan González Taguaruco, que faz parte da sua equipe jurídica, denunciou como "um padrão claro de desaparecimento forçado".
Os advogados de defesa ressaltam que, até o momento, não conseguiram representar Rocío em um processo contra ela por terrorismo.
Isso é o que se sabe sobre o caso, que é acompanhado com preocupação pelo escritório de Direitos Humanos da ONU, pela União Europeia e pelo governo dos Estados Unidos.
- Presa no aeroporto -
Rocío, 57, que tem nacionalidades venezuelana e espanhola, foi presa no último dia 9, na área de imigração do aeroporto internacional de Caracas. Ela estava com a filha, Miranda, que avisou a familiares que funcionários do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin) haviam levado sua mãe.
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, levou mais de 48 horas para anunciar que Rocío estava presa. Segundo ele, a prisão ocorreu "em virtude de um mandado de prisão contra ela por suspeita de estar ligada a uma trama de conspiração e tentativa de magnicídio cujo objetivo era atentar contra a vida do chefe de Estado, Nicolás Maduro, e de outros funcionários do alto escalão".
O governo venezuelano, que denuncia com frequência planos contra Maduro, diz ter neutralizado "cinco conspirações" em 2023, nas quais são apontados militares, jornalistas e defensores dos direitos humanos.
- 'Desaparecimento forçado' -
A equipe jurídica responsável pela defesa de Rocío denunciou "o desaparecimento forçado" da ativista e de cinco de seus parentes, entre eles seu ex-marido José Plaza, militar reformado, e sua filha, Miranda.
"Desconhecemos o paradeiro de cada uma dessas pessoas, de forma que o desaparecimento forçado persiste", ressaltaram os advogados hoje.
Em mensagem publicada na noite de ontem no X, Saab mencionou uma audiência de apresentação de seis pessoas, referindo-se a Rocío e seus cinco parentes, perante um tribunal contra o terrorismo. Depois disso, o Ministério Público solicitou a privação preventiva de liberdade para Rocío e seu ex-marido.
Rocío será acusada dos crimes de "traição à pátria", "conspiração" e "terrorismo", acusações pelas quais outros ativistas venezuelanos foram processados. Seu ex-marido será processado por "revelação de segredos políticos e militares relacionados à segurança da nação", segundo Saab.
Os outros quatro familiares de Rocío foram libertados após receberam medidas cautelares, que consistem em "apresentações periódicas" ao tribunal e proibição de saída do país e de dar entrevistas, confirmou à AFP o advogado Joel Garcia. Segundo a defesa, tratam-se de sua filha, Miranda, do pai dela, Víctor Díaz Paruta, e de dois irmãos da ativista.
Sua assessoria de imprensa confirmou hoje que Rocío está presa no Helicoide, um dos principais centros de detenção de "presos políticos", gerido pelo Sebin. Seu ex-marido foi levado para a sede da Direção Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM), em Boleíta, Caracas.
- 'Campanha feroz' -
Saab, denunciou hoje no X o que chamou de "campanha feroz" após a prisão de Rocío: "Denunciamos uma campanha feroz do exterior contra o Sistema de Justiça e o Estado venezuelanos."
Saab apontou setores "que sempre menosprezaram as instituições democráticas venezuelanas e, ao mesmo tempo, apoiaram as tentativas de magnicídio e golpe de Estado contra a Venezuela".
A reação do procurador, de linha chavista, coincide com os pedidos dos Estados Unidos e das Nações Unidas para que Rocío e seus familiares sejam soltos.
* AFP