A vice-presidente dos Estados Unidos, o primeiro-ministro da China e o ministro das Relações Exteriores da Rússia participaram nesta quinta-feira (7) da Cúpula do Leste Asiático, na qual o presidente indonésio, anfitrião do evento, fez um alerta sobre as crescentes rivalidades entre as potências.
A cúpula reuniu a China e os Estados Unidos à mesma mesa um dia depois que o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, advertiu que as grandes potências devem gerenciar suas diferenças para evitar "uma nova Guerra Fria".
O encontro em Jacarta, capital da Indonésia, reuniu líderes de 18 nações, incluindo os da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) e as principais potências presentes na região.
As interações entre as delegações das duas maiores potências mundiais foram observadas de perto devido ao risco de aumento das tensões sobre Taiwan, às relações com a Rússia e à rivalidade para ganhar influência no Pacífico, às vésperas da cúpula do G20 que ocorrerá na Índia neste fim de semana.
"Cada líder tem a mesma responsabilidade de não criar conflitos, não provocar novas tensões e, ao mesmo tempo, reduzir os pontos de atrito", afirmou o presidente indonésio, Joko Widodo, após a cúpula.
"Posso garantir que se não formos capazes de gerenciar nossas diferenças, seremos destruídos."
A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, denunciou "a invasão ilegal da Ucrânia pela Rússia", os desafios à segurança no Mar da China Meridional e a ameaça dos mísseis norte-coreanos, disse Daniel Kritenbrink, subsecretário de Estado dos EUA para o leste da Ásia, à imprensa.
No entanto, a declaração conjunta da cúpula, consultada pela AFP, omitiu qualquer menção ao Mar da China Meridional, que é em grande parte reivindicado pela China, ou à guerra na Ucrânia.
Um parágrafo que fazia referência a essa área marítima em disputa foi removido, disse um diplomata à AFP. "A China se recusou", explicou.
"Portanto, também não há nenhum parágrafo sobre a Ucrânia, porque a Rússia se opôs", acrescentou sob condição de anonimato.
Esta cúpula também marcou o primeiro encontro entre líderes dos Estados Unidos e da Rússia em quase dois meses, após uma reunião tensa da Asean em julho, na qual o ministro das Relações Exteriores de Moscou, Serguei Lavrov, foi repreendido por seus colegas ocidentais devido à invasão da Ucrânia.
Lavrov falou sobre os riscos da "militarização do leste da Ásia" e acusou a Otan de "penetrar" na região, segundo um comunicado do ministério das Relações Exteriores russo. Ele também criticou a aliança militar Aukus, entre Austrália, Estados Unidos e Reino Unido, chamando-a de "conflituosa".
Na cúpula, além dos líderes dos países da Asean, participaram Índia, Japão, Coreia do Sul, Canadá e Austrália.
- Advertências sobre o Mar da China -
O presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, afirmou que qualquer tentativa unilateral de alterar o status quo no Mar da China Meridional era "inaceitável" e pediu uma "ordem marítima baseada em regras" para gerenciar essa importante rota de transporte.
À margem da cúpula, o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, se encontrou com seu homólogo chinês, Li Qiang, e confirmou que visitará Pequim ainda este ano.
Além de reunir todos esses líderes, os especialistas não esperam que a cúpula ajude muito a resolver a ampla gama de disputas regionais e globais.
As grandes potências usaram as conversas prévias em Jacarta para formar alianças e exercer pressão sobre o bloco de dez países da Asean (Mianmar, Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Singapura, Tailândia e Vietnã).
A cúpula da Asean realizada anteriormente nesta semana foi dominada pela crise em Mianmar, onde os líderes pediram à junta militar que cessasse os ataques contra civis.
* AFP