S. Mamang Vaiphei se escondeu na floresta por três noites com seus cinco filhos depois que uma multidão enfurecida atacou sua aldeia no estado de Manipur, no nordeste da Índia, onde a violência étnica já matou pelo menos 54 pessoas.
Quase 23.000 pessoas fugiram dos confrontos que começaram na semana passada nesta região montanhosa na fronteira com Mianmar.
"O povo Meitei [grupo étnico majoritário naquela região] queimou primeiro 26 ou 27 casas", disse Mamang à AFP.
O homem de 54 anos agora dorme ao ar livre em um acampamento do exército com cerca de 900 outras pessoas. Todos eles contam histórias semelhantes.
"Depois eles voltaram e terminaram [de queimar] todas as 92 casas [da aldeia], destruíram o templo, a escola e o que restou", continuou ele.
Os estados remotos do nordeste da Índia sofrem com tensões interétnicas e separatistas há décadas. A região abriga dezenas de grupos tribais e guerrilheiros cujas reivindicações variam de maior autonomia à separação do resto da Índia.
Os últimos confrontos eclodiram na semana passada entre a etnia Meitei, majoritariamente hindu, e a tribo cristã Kuki, por causa de uma medida que garante cotas aos Meitei em empregos públicos e universidades.
A violência eclodiu em Imfal, a capital do estado, e em outros lugares, com manifestantes incendiando veículos e prédios. De acordo com os moradores, grupos Meitei com armas e latas de gasolina atacaram os assentamentos Kuki localizados nas colinas.
- "Atirar à queima-roupa" -
O exército mobilizou milhares de soldados, emitiu ordens de "atirar à queima-roupa" em "casos extremos", impôs toque de recolher e cortou a Internet.
Mamang, que passou sua quinta noite no abrigo no domingo, é uma das 23.000 pessoas que o exército afirma ter salvado.
Ele conta que fugiu em 4 de maio de sua aldeia, Kamuching, que tinha mais de 500 habitantes antes dos ataques. "Tudo foi incendiado (...) Nós fugimos, todos nós fugimos para a floresta e tentamos sobreviver", disse.
A maioria só conseguiu fugir com uma pequena sacola com itens pessoais e seus celulares.
"Todos nós aqui estamos nervosos, com medo de morrer", admitiu Alun Vaiphei, de 50 anos, um morador da tribo Kuki de Gotangkot.
"Para salvar nossas vidas, entramos em contato com os atiradores de Assam [estado vizinho] para que nos resgatassem de nosso esconderijo", relatou.
A vida parou em Imfal e nos arredores no domingo, com lojas fechadas e estradas desertas ainda repletas de veículos queimados.
Os atos de violência diminuíram, mas o brigadeiro do exército Sandeep Kapoor disse no domingo que ainda recebia de "50 a 60 ligações" com pedidos de ajuda.
Suas equipes resgataram cerca de 2.000 pessoas, tanto Kukis quanto Meitis, nas últimas 48 horas, informou ele.
"Não podemos transferi-los em plena luz do dia porque sempre existe o risco de que membros de uma ou outra comunidade nos vejam atravessando as cidades e se tornem agressivos", disse outro agente.
Dentro de três caminhões militares estavam amontoados alguns homens, bebês, mulheres idosas e meninas. Entre eles estava Leh Haokip, de 35 anos. Sua casa foi saqueada e seu gado roubado.
"Não houve ajuda da polícia nem do Estado e agora não sabemos o que fazer nem para onde ir", lamentou.
* AFP