O ministro da Defesa israelense, Yoav Galant, pediu, neste sábado (25), uma pausa de um mês no processo de reforma judicial empreendido pelo governo, enquanto dezenas de milhares de israelenses voltaram a protestar em Tel Aviv contra este projeto controverso.
As mobilizações se sucedem a cada semana desde a apresentação, em janeiro, por parte do governo de direita do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, de um projeto de reforma que divide o país.
Em um discurso na noite deste sábado, Galant disse temer que as divisões populares sobre o tema se tornem eventualmente uma "verdadeira ameaça para a segurança de Israel".
"Devemos deter o processo legislativo" por um mês. "As mudanças maiores em nível nacional devem ser feitas pela via da consulta e do diálogo", afirmou o ministro, antes de uma semana-chave marcada por outras disposições legislativas e novas convocações de protestos que se espera que sejam multitudinárias.
A reforma judicial visa a aumentar o poder dos parlamentares em relação ao dos magistrados, o que, segundo os críticos do projeto, põe em risco o caráter democrático do Estado.
- "Israel vai perder" -
Segundo Galant, ganhe quem ganhe a queda de braço atual - "a rua ou a Knesset" (Parlamento) -, quem "vai perder" será "o Estado de Israel".
Suas declarações foram recebidas com satisfação pelo líder da oposição, Yair Lapid, que as qualificou de um "passo corajoso (...) para a segurança de Israel".
Dois deputados do Likud expressaram, pelo Twitter, apoio a Galant, levantando dúvidas sobre se o governo terá maioria caso lance uma votação.
O titular da pasta da Defesa também pediu o fim das manifestações, no mesmo dia em que 200.000 pessoas foram às ruas de Tel Aviv, segundo estimativas da imprensa israelense.
"As leis que estão sendo adotadas atualmente têm como objetivo fazer do governo o único dono a bordo e destruir a separação dos poderes", declarou à AFP Daphne Oren-Magidor, historiadora de 41 anos, durante a manifestação.
"Cada vez, mais israelenses acordam (...) Não vamos viver em uma ditadura", disse Josh Drill, de 26 anos, porta-voz de um dos movimentos de protesto.
Em Jerusalém, milhares de pessoas foram em passeata até a frente da residência do presidente, Isaac Herzog.
Para Harriet Scher, de 80 anos, as reformas "afetarão principalmente as pessoas marginalizadas: lésbicas, gays e a população árabe. Não será bom para o país se eles (os políticos) tiverem o controle total do Supremo Tribunal", afirmou.
A reforma suscitou críticas não só dentro, mas também fora do país. Até mesmo o principal aliado de Israel, os Estados Unidos, expressaram "preocupação" com a reforma.
- Pôr "fim à divisão" -
Netanyahu, que até agora tinha mantido um perfil baixo sobre o tema, anunciou na quinta-feira que levaria a reforma adiante, mas assegurou que faria tudo o possível para "alcançar uma solução" aceitável, tanto para os apoiadores quanto para os cíticos do projeto, e que poria "fim à divisão".
A justiça israelense advertiu o primeiro-ministro que não pode intervir no processo de adoção da mudança legislativa, já que seria "ilegal" em vista dos processos judiciais por corrupção no qual é acusado.
Os parlamentares devem votar na próxima semana um dos pontos centrais da reforma: a mudança no processo de nomeação dos juízes.
O texto sofreu emendas para atenuar o conteúdo a fim de obter uma maioria mais ampla, ainda sem o apoio da oposição, que fez ouvidos moucos ao chamado ao diálogo feito por Netanyahu, e pede uma "pausa" no trabalho legislativo antes de voltar às negociações.
* AFP