Especialistas em conservação e delegados de mais de 180 países vão se reunir no Panamá a partir da segunda-feira (14) para rever as regras do comércio de tubarões, répteis, tartarugas e outras espécies silvestres em risco de extinção ou que são fonte de riscos sanitários na era da covid.
Neste encontro, que terminará em 25 de novembro, os participantes vão examinar 52 propostas para modificar os níveis de proteção estabelecidos anteriormente pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora Silvestres (CITES).
Esta 19ª Conferência das Partes da CITES (que inclui 183 países e a União Europeia) também fará um balanço da luta contra a fraude e votará novas resoluções, entre elas sobre os riscos de zoonoses (doenças transmitidas por animais aos humanos), tema que ganhou relevância com a pandemia de covid-19.
Esta Convenção, que entrou em vigor em 1975, estabeleceu regras para o comércio internacional de mais de 36.000 espécies silvestres, que vão da concessão de permissões (mais de um milhão de transações autorizadas por ano) à proibição total.
"Definitivamente, a CITES tem sido um mecanismo que conseguiu reduzir a pressão sobre muitas espécies gerada pela comercialização", disse à AFP Juan Manuel Posada, gerente de Ciências da Fundação MarViva, ONG que opera no Pacífico Tropical da América Latina.
Organizada a cada dois ou três anos, esta edição será realizada no Panamá sob a sombra e a influência de duas conferências das Nações Unidas, também cruciais para o futuro da vida no planeta: a COP27 sobre o clima, celebrada no Egito, e a COP15 sobre a biodiversidade, que será realizada em dezembro em Montreal (Canadá).
Em 2019, em Genebra, a CITES reforçou a proteção das girafas, praticamente baniu a compra de elefantes por zoológicos e manteve a proibição para que a África austral venda seus estoques de marfim. Além disso, colocou 18 tipos de tubarões no Anexo II, que inclui as espécies cujo comércio é estritamente limitado.
- Sopa de barbatana -
Nesta conferência, os tubarões-réquiem, os tubarões-martelo e os peixes-guitarra - um tipo de raia - terão lugar de destaque nos debates de propostas que forem colocados no Anexo II.
"Seria um fato histórico se estas três propostas forem aprovadas: passaríamos de controlar quase 25% do comércio de barbatanas de tubarão para mais de 90%", declarou à AFP Ilaria Di Silvestre, encarregada das campanhas europeias do Fundo Internacional para o Bem-estar Animal (IFAW).
"Estamos em meio a uma grande crise de extinção de tubarões", que são "o segundo grupo de vertebrados mais ameaçados do planeta", disse Luke Warwick, da ONG Wildlife Conservation Society (WCS).
Ele explicou que as "barbatanas podem chegar a valer 1.000 dólares o quilo nos mercados da Ásia oriental", pois são ingredientes de uma sopa muito apreciada. Este comércio, cujo centro fica em Hong Kong, é muito lucrativo, embora esteja em declínio.
"A China nunca votou na CITES a favor de uma espécie marinha, mas aplica as resoluções uma vez aprovadas", destacou a vice-presidente da WCS, Sue Lieberman.
Três espécies de crocodilos, três de lagartixas, várias serpentes e 12 tartarugas de água doce tiveram sua inclusão proposta no Anexo I (de proibição total) ou no Anexo II (de comércio permitido sob condições, às vezes com cotas estabelecidas em zero).
"As tartarugas de água doce de todo o mundo são exploradas de forma não sustentável e ilegal para o comércio de animais de estimação exóticos, para colecionadores e no comércio de alimentos na Ásia", destacou Lieberman.
- Madeira do Brasil -
Na flora, o Mogno Africano poderia passar ao Anexo II, assim como algumas espécies de ipês, que crescem nas Américas e no Caribe.
O Brasil gerou inquietação entre os músicos com a proposta de proibir totalmente o comércio de Pernambuco, uma madeira protegida usada na fabricação de arcos para violino.
A organização TRAFFIC, conselheira científica da CITES, recomendou rejeitar a proposta brasileira, que tem poucas chances de conseguir os dois terços de votos necessários.
A conferência de especialistas em vida silvestre no Panamá será a primeira após o surgimento da covid-19, que pode ter tido origem animal.
Este tema foi incluído pela primeira vez na agenda da CITES e deve gerar debates intensos, que vão continuar durante a cúpula sobre biodiversidade em Montreal.
* AFP