O Ministério Público do Panamá pediu nesta sexta-feira (16) o envio a juízo do ex-presidente Juan Carlos Varela, ao qual acusa de lavagem de dinheiro procedente da empreiteira brasileira Odebrecht, que admitiu ter pago propinas milionárias no país centro-americano para obter contratos públicos.
"Deve-se emitir um auto de chamamento a juízo" contra Varela porque "há meios probatórios suficientes que permitem atestar a vinculação" do ex-presidente "com o crime de lavagem de capitais", diz o texto do MP, lido durante uma audiência prévia.
A Procuradoria Especial Anticorrupção acusa Varela (2014-2019) de ter recebido dinheiro da Odebrecht através de sociedades de fachada e contas no exterior entre 2008 e 2014, quando atuava como presidente do Partido Panameñista (direita).
Segundo as acusações, durante este período, o partido de Varela teria recebido 10 milhões de dólares da multinacional brasileira para financiar campanhas políticas.
As contas, segundo o MP, foram criadas "para beneficiar e transferir fundos para terceiros, como Juan Carlos Varela".
O ex-presidente, que foi vice durante o governo de Ricardo Martinelli (2009-2014), também acusado, admitiu durante o processo ter recebido dinheiro da Odebrecht para financiar a campanha de 2009, mas não enquanto foi presidente do país.
No entanto, o MP assegura que Varela teria recebido pagamentos "quando já ocupava o cargo de presidente constitucional do Panamá" e quando era vice-presidente, em um momento em que a Odebrecht "se beneficiava da adjudicação de contratos para a construção de obras públicas de grande envergadura e impacto social".
No Panamá, a empresa construiu as duas linhas do metrô da região metropolitana, a ampliação do aeroporto internacional de Tocumen e vários trechos do passeio marítimo da capital, entre outras obras milionárias.
Em 2016, a Odebrecht se declarou culpada perante um tribunal do Brooklyn de ter distribuído mais de US$ 788 milhões em propinas a autoridades governamentais, funcionários e partidos políticos sobretudo da América Latina para conseguir obras de infraestruturas, principalmente.
A empresa admitiu ter pago no Panamá propinas no valor de US$ 59 milhões em troca de contratos para a construção de obras públicas.
Desde a segunda-feira celebra-se na Cidade do Panamá a audiência prévia, onde meia centena de pessoas respondem a acusações de lavagem de dinheiro e corrupção pelo escândalo da Odebrecht.
Entre os acusados também está o ex-presidente Martinelli, cujos filhos estão presos nos Estados Unidos após terem se declarado culpados de receber US$ 28 milhões em propinas da multinacional brasileira.
Nem Varela, nem Martinelli compareceram até o momento às audiências.
* AFP