Novas manifestações aconteceram no Irã nesta segunda-feira (19), especialmente em Teerã e Mashhad, contra a morte de uma jovem presa pela polícia moral, que voltou a negar qualquer envolvimento no falecimento.
Nesta segunda-feira à noite, na rua Hejab ("véu muçulmano", em persa), no centro de Teerã, "várias centenas de pessoas gritaram contra as autoridades e algumas tiraram o véu", obrigatório para as mulheres no Irã, anunciou a agência Fars.
Outros protestos foram vistos durante o dia em várias universidades da capital, exibindo "esclarecimentos" sobre a morte da jovem iraniana, segundo a imprensa local.
Um vídeo curto divulgado pela Fars mostra uma multidão de dezenas de manifestantes, especialmente mulheres, sem véu na cabeça, gritando "morte à República Islâmica".
Uma manifestação semelhante aconteceu em Mashhad, principal cidade santa do país, localizada no noroeste, reportou a agência Tasnim.
No noroeste do país, de onde era a jovem falecida, "cerca de 500 pessoas se reuniram em Sanandaj, capital da província do Curdistão, e gritaram palavras de ordem contra as autoridades do país", disse a Fars.
As forças de segurança iranianas dispersaram com gás lacrimogêneo uma manifestação e efetuaram várias detenções após a morte da jovem que havia sido detida pela polícia moral, ainda segundo a mesma fonte.
"Os manifestantes quebraram as janelas dos veículos e incendiaram latas de lixo. A polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar a multidão", acrescentou a agência.
"Várias pessoas foram detidas", prosseguiu a Fars, sem dar um número exato.
- "Incidente lamentável" -
A polícia moral, responsável por fazer com que as mulheres respeitem o rígido código de vestimenta da República Islâmica - em particular o uso do véu em público - recebeu muitas críticas nos últimos meses por atuar com violência.
Mahsa Amini, de 22 anos e natural da região do Curdistão (noroeste), foi detida na terça-feira da semana passada em Teerã, onde visitava a família. A jovem faleceu na sexta-feira em um hospital, depois de passar três dias em coma.
O caso provocou uma onda de indignação no país. "Muitos manifestantes acreditam que Mahsa morreu torturada", indicou nesta segunda-feira a agência Fars.
A polícia de Teerã alega que "não houve qualquer contato físico" entre os agentes e a jovem.
O chefe da polícia de Teerã, general Hossei Rahimi, rechaçou novamente as "acusações injustas contra a polícia".
"Todas as provas demonstram que não houve negligência ou comportamento inapropriado de parte dos policiais", assegurou. "Trata-se de um incidente lamentável e desejamos não ser nunca mais testemunhas destes incidentes".
O general também indicou que a jovem tinha violentado o código de vestuário e que os policiais pediram a seus familiares que lhe trouxessem "roupas decentes".
A televisão estatal exibiu um vídeo de uma câmera de segurança na sexta-feira que mostra uma mulher, apresentada como Mahsa, desmaiando na delegacia depois de discutir com uma policial.
Amjad Amini, pai da vítima, disse que não aceita o que a polícia mostrou porque, segundo ele, "o vídeo foi cortado".
O pai da vítima negou as afirmações do ministro iraniano do Interior, Ahmad Vahidi, segundo o qual Mahsa Amini tinha problemas prévios, e declarou que a filha estava "em perfeito estado de saúde".
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, classificou a morte da jovem como "inaceitável" e pediu a punição dos responsáveis.
A França, por sua vez, denunciou fatos "profundamente impactantes" e pediu "uma investigação transparente".
* AFP