Uma delegação da esquerda latino-americana, que chegou por terra vinda da Costa Rica à fronteira com a Nicarágua, denunciou nesta sexta-feira (8) que o governo de Daniel Ortega impediu sua entrada ao país, onde pretendia visitar vários opositores presos.
"Acabamos de receber a informação da polícia migratória da Costa Rica que o governo da Nicarágua está montando uma operação militar na fronteira", disse à imprensa o argentino Mariano Rosa, do Movimento Socialista de Trabalhadores (MST) e coordenador desta delegação.
A delegação da Liga Internacional Socialista viajou por terra de San José até Peñas Blancas (noroeste), fronteira com a Nicarágua. No local, a polícia migratória da Costa Rica avisou que Manágua não havia autorizado que continuassem.
"A mensagem que transmitem à polícia migratória [da Costa Rica] não é só que se negam a coordenar a entrada desta comissão para verificar a situação de saúde dos presos e presas, mas que não nos aproximemos do posto fronteiriço de Peñas Blancas em território da Nicarágua", detalhou Rosa.
"Temos informação de que houve uma mobilização que não se via há tempo, militar, policial e paramilitar de saturação da fronteira", acrescentou.
Segundo Rosa, "há uma atitude intimidatória, ameaçadora da ditadura, frente a uma comissão internacional que tem um propósito humanitário".
De acordo com Luciana Echevarría, legisladora provincial por Córdoba (Argentina), foram enviados ao governo da Nicarágua detalhes das prisões e dos presos que queriam visitar para verificar suas condições de confinamento, mas não tiveram resposta.
"O silêncio do governo Ortega e agora toda esta atitude é intolerável e o que queremos denunciar em nível internacional. Isto faz mais do que confirmar que estamos diante de uma ditadura", destacou.
Organizações humanitárias contabilizam mais de 180 opositores presos na Nicarágua. Entre eles estão aqueles participaram de manifestações contra o governo em 2018.
Também dirigentes sociais e inclusive sete pré-candidatos presidenciais de oposição detidos em 2021, antes das eleições de novembro, quando Ortega obteve seu quarto mandato consecutivo.
Ortega, um ex-guerrilheiro no poder desde 2007, considera que seus opositores conspiram para derrubá-lo com ajuda de Washington, e seu governo os processou por crimes como "dano à integridade nacional" ou lavagem de ativos.
* AFP