Milhares de manifestantes sírios antirregime, impulsionados pelo repúdio geral suscitado pela invasão russa da Ucrânia, se reuniram nesta terça-feira (15) em Idlib, enclave rebelde no noroeste da Síria, para marcar os 11 anos do conflito que destruiu seu país.
A guerra na Síria começou em 15 de março de 2011 com a repressão contra manifestantes pró-democracia e com o conseguinte enfrentamento entre exército e rebeldes.
No entanto, com o passar dos anos, o conflito se tornou mais complexo, após a intervenção de países estrangeiros, entre eles a Rússia, que apoia Damasco, e deixou um país devastado e dividido.
Reunidos na principal praça de Idlib, mais de 5.000 pessoas participaram de uma das manifestações mais importantes em meses no último enclave que resiste ao regime de Bashar al Assad, apesar de muitos anos de ofensivas mortais, apoiadas por Moscou.
"Faz 11 anos que a revolução síria começou, mas hoje é como se fosse o primeiro dia", disse à AFP Salwa Abdelrahman, entre a multidão de manifestantes, alguns dos quais tremulavam bandeiras da Ucrânia e cartazes com mensagens exigindo uma intervenção contra o presidente russo, Vladimir Putin.
"Deixamos para trás nossas feridas, os deslocamentos forçados, os massacres e as prisões. Reiteramos nossa promessa para continuar a revolução", acrescentou esta manifestante de 49 anos, instando os ucranianos a continuar resistindo.
"Minha mensagem ao povo ucraniano é não desistir!", insistiu.
- 'Mesmo objetivo, mesmo inimigo' -
Muitos manifestantes esperam que a invasão russa da Ucrânia, lançada em 24 de fevereiro e apoiada por Assad, faça com que o mundo volte a se interessar por sua causa.
"O que acontece atualmente na Ucrânia é idêntico ao que acontece aqui, o inimigo é o mesmo e o objetivo é o mesmo", garantiu Radwan Atrash, outro manifestante presente na praça de Idlib.
O regime de Assad se viu duramente golpeado após o levante nacional de 2011, que degenerou em uma guerra civil.
Porém, a decisão de Putin de intervir militarmente para apoiar o regime em 2015 mudou o curso do conflito, salvando Assad 'in extremis' e destruindo a esperança de milhões de sírios de derrubar o regime.
A maior parte das vítimas do conflito, que causou meio milhão de mortos, recai sobre o regime sírio e seus aliados, ou seja, Rússia, Irã e numerosas milicias.
Cerca de quatro milhões de pessoas, das quais pelo menos a metade consiste em deslocados internos, vivem atualmente em Idlib.
Por ocasião do aniversário da revolta, diversos grupos de defesa dos direitos humanos pediram que a Síria não caia no esquecimento.
"Enquanto olhamos com horror para o que está acontecendo na Ucrânia, somos lembrados da dor intensa e crescente que a população síria tem sofrido", disse esta semana Jan Egeland, secretário-geral do Conselho Norueguês para os Refugiados.
"Uma das piores tragédias humanas de nosso tempo piorou no ano passado, eclipsada por crises em outras partes", acrescentou.
* AFP