Centenas de manifestantes se reuniram, nesta quinta-feira (15), no centro de Bangcoc, em desafio ao decreto promulgado algumas horas antes proibindo as reuniões de mais de quatro pessoas, uma medida das autoridades para enfraquecer o movimento pró-democracia.
"Libertem nossos amigos", gritaram os manifestantes, depois que vários líderes do movimento foram detidos.
"Estou arriscando minha segurança, mas queria estar aqui. A multidão me protegerá", declarou à AFP Khamin, uma estudante de 20 anos.
As autoridades endureceram sua posição contra o movimento que, há vários meses, exige mais democracia e se atreve a criticar a poderosa monarquia.
Na madrugada de quinta-feira, o governo promulgou um decreto de urgência que proíbe "as reuniões de cinco pessoas ou mais", assim como as "mensagens online suscetíveis de prejudicar a segurança nacional ou gerar medo".
O governo justificou a adoção do texto ao citar as manifestações "contrárias à Constituição" e mencionou um incidente durante um cortejo real na quarta-feira, durante uma manifestação que reuniu milhares de pessoas em Bangcoc para pedir a renúncia do primeiro-ministro Prayut Chan-O-Cha.
- Líderes detidos -
O porta-voz da Polícia Nacional, Yingyos Thepjumnong, anunciou a detenção de 22 pessoas.
Entre os detidos estão Parit Chivarak, conhecido como "Pinguim", e Anon Numpa, advogado especializado em direitos humanos, dois líderes do movimento que critica a monarquia.
Anon Numpa afirmou no Facebook que foi transportado de helicóptero para Chiang Mai (norte). "A detenção "é uma violação dos meus direitos e a situação é muito perigosa", alertou.
Outra figura de destaque do movimento, Panusaya Sithijirawattanakul, conhecida como "Rung" ("arco-íris"), também foi detida, de acordo com os ativistas.
"O decreto de urgência quer impor obstáculos ao movimento democrático e permitir (aos governantes) que mantenham o poder", lamentou "Rung" em sua página do Facebook pouco antes da detenção.
Desafiando a proibição de concentrações, a estudante de 22 anos convocou uma manifestação durante a tarde no centro da capital.
"Não autorizamos a reunião, seria uma violação do decreto de urgência", advertiu o porta-voz da polícia.
Os militares foram mobilizados ao redor de vários prédios governamentais.
- Desafio à realeza -
O movimento pró-democracia pede a dissolução do Parlamento com a renúncia do primeiro-ministro Prayut Chan O Cha e a revisão da Constituição de 2017, considerada muito favorável ao Exército.
Alguns vão mais longe e exigem uma revisão do papel e do poder da monarquia, um tema tabu no país.
Eles desejam a não interferência da monarquia nos assuntos políticos, a revogação da lei de lesa-majestade e a devolução dos bens da Coroa ao Estado, reivindicações inaceitáveis para o governo.
Na quarta-feira, mais de 10.000 manifestantes pró-democracia caminharam em direção à Casa de Governo para celebrar o 47º aniversário do levante estudantil de 1973.
Em um momento do protesto, um automóvel que transportava a rainha Suthida não conseguiu evitar a manifestação e permaneceu parado por alguns instantes, quando dezenas de ativistas fizeram a saudação com os três dedos inspirada no filme "Jogos Vorazes", em desafio à autoridade da realeza.
Um dia antes, outros ativistas fizeram a mesma saudação na passagem do rei Maha Vajiralongkorn.
O soberano, que ascendeu ao trono em 2016 após a morte de seu pai, o venerado rei Bhumibol, é uma figura controversa.
Nos últimos anos reforçou os poderes da monarquia ao assumir o controle direto da fortuna real. As frequentes viagens para o continente europeu, inclusive durante a pandemia de coronavírus, provocaram polêmica.
* AFP