O chefe de Estado provisório argelino Abdelkader Bensalah assinou um decreto pedindo eleições presidenciais em 4 de julho, informou nesta quarta-feira um comunicado oficial transmitido pela agência estatal de notícias APS.
"Abdelkader Bensalah, chefe de Estado, procedeu na terça-feira, 9 de abril de 2019, no dia em que assumiu o cargo, a assinar o decreto que prevê a eleição presidencial em 4 de julho de 2019", afirma o comunicado oficial.
Antes deste anúncio, Bensalah enfrentava nesta quarta novos protestos e uma convocação para uma greve geral no dia seguinte a sua nomeação e depois de ter prometido eleições transparentes em pouco tempo.
"'Saia, Bensalah!" e "Argélia Livre", gritaram os milhares de manifestantes concentrados na capital Argel, cercados por um importante dispositivo policial, dando continuidade a protestos que começaram sete semanas atrás.
Os manifestantes rejeitam tanto Bensalah e Nureddin Bedui, o primeiro-ministro, quanto Tayeb Belaiz, presidente do Conselho Constitucional, e pedem "um período de transição administrado por representantes das pessoas fora do sistema".
Presidente do Conselho da Nação (Senado), Bensalah foi nomeado presidente interino uma semana após a renúncia do presidente Abdelaziz Bouteflika, uma decisão constitucional contrária ao desejo dos argelinos, que exigem o fim do regime.
Reunido em sessão plenária, o Parlamento nomeou Bensalah, de 77 anos, considerado um produto do "sistema", para ocupar o cargo por 90 dias.
Após este período, uma eleição presidencial deveria ser organizada e, nela, Bensalah não poderia se apresentar.
Já na terça-feira, milhares de estudantes argelinos ocuparam as ruas do centro da capital para gritar "fora, Bensalah!".
Pela primeira vez em sete semanas de protestos, a polícia usou gás lacrimogêneo para tentar dispersar os manifestantes, constataram jornalistas da AFP. Jatos d'água também foram usados.
O ex-presidente Bouteflika, de 82 anos, com saúde frágil desde o derrame sofrido em 2013, renunciou em 2 de abril após 20 anos no poder, sob a pressão das ruas e do Exército.
Desde 22 de fevereiro, os argelinos se manifestam contra a possibilidade de Bouteflika se apresentar para um quinto mandato nas eleições a serem realizadas em abril.
Uma semana após a saída de Bouteflika, os deputados da Assembleia Popular Nacional (APN, Câmara baixa) e do Conselho da Nação (Câmara alta) foram convocados para nomear um novo presidente interino.
Abdelkader Bensalah, presidente do Conselho da Nação por quase 17 anos, era um homem leal a Bouteflika.
"Vou trabalhar pelos interesses do povo", prometeu Bensalah ao Parlamento.
O principal partido islamista da Argélia, o Movimento da Sociedade pela Paz (MSP), que apoiou Bouteflika por um tempo antes de romper com ele em 2012, anunciou na segunda-feira que iria boicotar a sessão parlamentar por sua "posição contrária às exigências do povo".
Até mesmo o jornal pró-governo El Moudjahid havia sugerido na terça-feira que Bensalah fosse descartado.
O problema é que o chefe do Estado-Maior do Exército, o general Ahmed Gaid Salah, de fato o novo líder do país, exige que a sucessão de Bouteflika seja feita dentro do quadro estrito da Constituição.
Já o movimento de protesto exige instituições de transição que permitam reformas profundas e eleições livres.
Em meio ao movimento de contestação popular que levou à renúncia de Bouteflika, o diretor do escritório da Agence France Presse (AFP) em Argel, Aymeric Vincenot, de 45 anos, foi expulso na terça-feira pelas autoridades argelinas, que se negaram a renovar sua credencial para 2019.
Vincenot, de 45 anos, que ocupava o cargo em Argel desde junho de 2017, teve de deixar o país. A decisão foi considerada "inaceitável" pelo presidente da AFP, Fabrice Fries, que disse que "nessas condições", não se considera nomear de imediato um novo diretor para a Argélia.
O Ministério francês das Relações Exteriores também se pronunciou. "Lamentamos essa decisão e lembramos nosso compromisso com a liberdade de imprensa e com a proteção dos jornalistas no mundo todo", declarou a porta-voz da Chancelaria, Agnès von der Mühll, em entrevista coletiva.
Para o presidente da ONG Repórteres sem Fronteiras, Christophe Deloire, "a expulsão do diretor do escritório da AFP na Argélia é mais do que um sinal extremamente negativo".
"É o indício de uma vontade de dissimulação: por que violar a liberdade de imprensa nesse período político?", acrescentou, no Twitter.
* AFP