Mary Lou McDonald, que neste sábado (10) substituiu Gerry Adams como presidente do partido irlandês Sinn Féin, representa uma ruptura com o passado da formação como vitrine política da organização armada IRA.
Esta mulher de 48 anos, mãe de dois filhos, enfrenta a difícil tarefa de substituir um líder carismático que comanda o partido desde 1983 e conduzir o Sinn Féin para o futuro que almeja, um de vitórias eleitorais de ambos os lados da fronteira irlandesa.
McDonald relembra que cresceu vendo Adams na televisão e que não poderá preencher seu vazio, mas assegura que criará o seu espaço.
"Juntos nos próximos anos faremos uma viagem cheia de oportunidades, desafios, mas acho que será considerado um capítulo definitivo em nossa ambição de uma Irlanda unida e do fim da divisão", assegurou.
Diferentemente de Adams, que cresceu no entorno conflituoso e sectário da britânica Belfast, McDonald vem de uma família abastada da capital irlandesa.
De um bairro de classe alta de Dublin, frequentou uma escola católica particular antes de estudar na universidade Literatura Inglesa, Integração Europeia e Gestão de Recursos Humanos.
Trabalhou no setor privado e foi membro do partido de centro direita Fianna Fail até 1998.
Foi candidata do Sinn Féin pela primeira vez nas eleições gerais de 2002, mas não conseguiu ser deputada pela circunscrição de Dublin Oeste. Em 2004, ao contrário, se tornou eurodeputada pela República da Irlanda, a primeira cadeira que o partido conseguia em Estrasburgo.
Em 2009 se tornou a segunda do partido, e em 2011 venceu finalmente uma cadeira no Parlamento irlandês pela circunscrição de Dublin Central.
- A sombra do IRA -
Promovida por Adams, foi designada sua sucessora. Outras grandes figuras do partido se afastaram, ou expressaram seu apoio.
Martin McGuinness, um antigo comandante do grupo armado Exército Republicano Irlandês (IRA), foi o aliado mais próximo de Adams no Sinn Féin até sua morte, em 2017.
Seu filho Fiachra McGuinness disse que o pai trabalhou estritamente com McDonald e era "um grande admirador de suas ideias, sua dedicação e seu compromisso".
"Valorizo minha amizade com ela e acho que é a candidata ideal para liderar o Sinn Féin", acrescentou.
A sombra do agora desaparecido IRA continua pairando sobre um partido que tenta ganhar o respeito mediante a ação social.
McDonald é ativa em temas como a luta contra a desigualdade e a defesa dos serviços públicos.
No entanto, muitas vezes é acusada de fraqueza com o IRA, na linha de seu partido.
Os unionistas pró-britânicos da Irlanda do Norte, seus críticos na Irlanda, a atacaram recentemente por não ser suficientemente dura com o deputado do Sinn Féin que apareceu em um vídeo zombando de um massacre de operários protestantes pelas mãos de pistoleiros republicanos.
O principal objetivo do Sinn Féin é a reunificação da Irlanda, separada desde a independência de 1922 entre Irlanda do Norte, que continuou sendo britânica, e a República da Irlanda.
McDonald aspira também que o Sinn Féin algum dia governe em Dublin, algo que parecia impossível com Adams à frente do partido.
* AFP