O governo somali se esforçava, nesta segunda-feira, para ajudar as famílias das vítimas do atentado com caminhão-bomba de sábado no centro de Mogadíscio, o mais violento na história da Somália, com 276 mortos e 300 feridos, a encontrar os desaparecidos.
O ministério da Informação somali divulgou durante a noite o primeiro balanço oficial do ataque, indicando que "o governo federal confirmou que 276 pessoas morreram na explosão e outras 300 feridas foram internadas nos diversos hospitais de Mogadíscio".
"Ainda há uma operação nacional de emergência em curso e divulgaremos qualquer nova informação", completa o comunicado do ministério, que dá a entender que o balanço pode aumentar.
O governo estabeleceu um comitê de emergência para "ajudar as famílias a procurar seus parentes desaparecidos e contribuir financeiramente com aqueles que perderam suas propriedades na explosão".
O ataque com caminhão-bomba aconteceu no sábado à tarde em uma avenida muito movimentada do distrito de Hodan, um bairro comercial da capital que abriga muitas empresas e hotéis.
Os edifícios e veículos próximos ao local da explosão ficaram muito danificados. O ataque deixou vários corpos carbonizados ou mutilados. Segundo especialistas entrevistados pela AFP, a carga explosiva utilizada no ataque era de no mínimo 500 kg.
O atentado não foi reivindicado, mas as autoridades apontaram os islamitas somalis shebab, ligados à Al-Qaeda, que executam ataques com frequência em Mogadíscio e seus arredores.
Até agora, o atentado mais violento da história da Somália havia acontecido em outubro de 2011, quando a explosão de um caminhão-bomba em um complexo ministerial da capital deixou pelo menos 82 mortos e 120 feridos.
Desde domingo, os moradores da capital compartilhavam na internet nomes e fotos de desaparecidos.
"Já se passaram mais de 24 horas e ainda não temos informações sobre a irmã de um amigo. Supomos que ela morreu e que seu corpo foi muito queimado", testemunhou nesta segunda-feira um morador de Mogadíscio, Abdulahi Nuradin.
- 'Cena terrível' -
"Fomos em vários hospitais em busca de informações, mas sem resultado. A família tem 99% de certeza que ela está morta. Vi tantos pedaços de corpos humanos no hospital que não consigo nem mesmo descrever", acrescentou.
Ayan Mohamed, uma enfermeira do hospital de Medina, explicou ter visto várias pessoas em busca de parentes procurar entre os corpos.
"Algumas pessoas ficaram em estado de choque com o que viram. Algumas reconheceram parentes por causa de seus dedos ou pequenas partes dos corpos. Nunca vi algo tão terrível", lamentou.
"O que vi nos hospitais que visitei é indescritível. Continuamos encontrando corpos e peço a todos que ajudem. As pessoas estão em uma situação difícil", declarou, por sua vez, o prefeito de Mogadíscio, Tabid Abdi Mohamed.
Centenas de pessoas foram às ruas de Mogadíscio no domingo para manifestar sua raiva após este ataque que chocou os somalis, já habituados com atentados quase diários.
"As pessoas estão fartas e este é o momento de dizer não à violência", declarou o prefeito Mohamed após uma passeata no sul da capital.
Ao menos 723 pessoas morreram e 1.116 foram feridas em ataques na Somália em 2016, segundo o centro Sahan, com sede em Nairóbi, números em alta em relação ao ano de 2015.
Nenhum grupo reivindicou o ataque até o momento, mas os rebeldes shebab, embrião da Al-Qaeda, executam com frequência ataques suicidas na capital e em outras cidades em sua luta contra o governo somali, que é respaldado pela comunidade internacional.
Os shebab querem derrubar o frágil governo central somali, apoiado pela comunidade internacional e por 22.000 soldados da União Africana (UA).
Eles foram foram expulsos da capital da Somália há seis anos por tropas somalis e da UA. Com o passar dos anos perderam o controle das principais localidades do sul da Somália.
Mas os rebeldes continuam controlando as zonas rurais e executam ataques contra os militares, o governo e alvos civis, assim como ataques terroristas no Quênia.
A explosão de sábado aconteceu diante do Safari Hotel, um estabelecimento popular, mas que não é utilizado com frequência por funcionários do governo. As autoridades ainda não sabem se o alvo era o hotel.
Vários países se manifestaram, com Paris, Londres, Washington, Ancara e a União Africana (UA), expressando "solidariedade" com a Somália.
* AFP