Quase três anos após terem sido absolvidos em primeira instância, o suíço Joseph Blatter e o francês Michel Platini voltaram ao tribunal nesta segunda-feira. E os ex-dirigentes, da Fifa e da Uefa, respectivamente, reiteraram que são inocentes da acusação de pagamento de propina em 2011.
"Quando você fala sobre falsidades, mentiras e enganos, esse não sou eu", disse Blatter, que completará 89 anos na semana que vem. "Isso não existiu em toda a minha vida", reforçou o ex-presidente da Fifa, em alemão, diante de três juízes que estão julgando o caso.
Blatter aprovou um pagamento da Fifa no valor de 2 milhões de francos suíços (cerca de R$ 13 milhões, pelo câmbio atual) para o grande jogador francês Platini em 2011 por um trabalho retroativo como assessor presidencial uma década antes.
Blatter e Platini negam ter cometido irregularidades em um caso que já está em seu 10º ano e que encerrou as carreiras políticas dos dois homens mais influentes do futebol mundial, que lideravam a Fifa e a Uefa na época da denúncia.
Eles alegaram consistentemente em cinco órgãos judiciais diferentes - duas vezes na Fifa, depois na Corte Arbitral do Esporte (CAS) e agora em dois tribunais criminais federais suíços - que tinham um "acordo de cavalheiros" verbal para um dia acertar o salário não pago e não contratado.
A acusação do Ministério Público Federal em novembro de 2021 disse que o pagamento "prejudicou os ativos da Fifa e enriqueceu Platini ilegalmente". "Não há corrupção, não há fraude, não há nada", afirmou Platini, nesta segunda, após cinco horas no tribunal no primeiro dos quatro dias programados para o julgamento do caso.
A absolvição em primeira instância aconteceu quase sete anos após a abertura da investigação e afastou ambos dos seus cargos. Por tabela, também encerrou a campanha de Platini para suceder o próprio Blatter, seu antigo mentor político, na presidência da Fifa.
"Estou esperançoso", disse Blatter aos repórteres em alemão, entrando no tribunal com uma aparência frágil. Ele chegou ao tribunal 10 minutos depois de Platini - antigos aliados na Fifa, que se tornaram rivais pelo controle da entidade máxima do futebol até 2015, agora acusados por quase uma década.
Seu segundo julgamento deve terminar na quinta-feira. O promotor Thomas Hildbrand, um veterano das investigações da Fifa que remontam a mais de duas décadas, pediu sentenças de 20 meses, suspensas por dois anos.
Blatter foi presidente da Fifa e a figura mais influente do futebol mundial por 17 anos, até ser destituído precocemente do cargo em 2015, em meio às consequências de uma crise de corrupção no esporte, o chamado Fifagate.
Platini era um ex-capitão e ex-técnico da seleção francesa, que estava organizando a Copa do Mundo de 1998 em seu país natal, quando trabalhou para ajudar Blatter a ser eleito para presidir a Fifa, às vésperas do início daquele Mundial.
ENTENDA O CASO
Blatter era presidente da Fifa em 2011 quando autorizou o pagamento a Platini, então vice-presidente da entidade máxima do futebol mundial e que dirigia a Uefa. O francês era considerado por muitos como o sucessor natural de Blatter à frente da Fifa.
Os detalhes do pagamento feito em fevereiro de 2011 vieram à tona quatro anos depois, como consequência da crise de corrupção que atingiu a Fifa em maio de 2015. Investigadores federais dos Estados Unidos abriram uma ampla investigação sobre autoridades do futebol internacional.
As autoridades suíças fizeram prisões durante a madrugada em hotéis de Zurique antes de apreender os registros financeiros e comerciais da Fifa. Um dos detidos, na ocasião, foi o então presidente da CBF, José Maria Marín.
O caso Blatter-Platini alterou a linha de sucessão esperada na Fifa, onde os chefes de seu comitê de ética, então independente, suspenderam e depois baniram os dois dirigentes.
Blatter foi destituído do cargo antes do previsto e Platini foi afastado da Uefa e viu desmoronar sua campanha para a eleição presidencial da Fifa, em fevereiro de 2016. Essa eleição foi vencida por Gianni Infantino, que havia sido secretário-geral de Platini na UEFA - Infantino segue no cargo após reeleições.
Outrora os dois homens mais influentes do futebol mundial, Blatter e Platini voltam ao tribunal com 88 e 69 anos, respectivamente, sem trabalhar no esporte desde 2015.
A previsão é de que o julgamento dure quatro dias, até quinta-feira, com dias de reserva disponíveis em 11 e 12 de março. Isso deixa livre a segunda-feira, 10 de março, dia do 89º aniversário de Blatter.
O julgamento está sendo realizado em um tribunal cantonal (estadual) em Muttenz, no subúrbio da Basileia, em vez do tribunal criminal federal em Bellinzona, onde o primeiro julgamento foi realizado durante 11 dias em junho de 2022. Isso porque Platini ganhou uma decisão federal no ano passado ordenando a recusa dos juízes de apelação em Bellinzona.