Infraestrutura pode até parecer um assunto chato. No entanto, ela é uma característica definidora das civilizações humanas – especialmente a infraestrutura de transporte. As altas habilidades incas e romanas para construir estradas e calçadas foram fundamentais para o sucesso de seus respectivos impérios.
Da mesma forma, nosso mundo moderno avança por meio de rodovias, ferrovias, aeroportos e portos marítimos, que facilitam o movimento de pessoas e mercadorias em escala global. Mas a infraestrutura desse mundo em evolução tende a evoluir ou a ser superada. As pontes construídas em uma década precisaram ganhar mais pistas na década seguinte; os aeroportos passaram a exigir menos vagas de estacionamento e mais pontos para embarque e desembarque em carros de aplicativos; os portos, que já sofrem para abastecer os navios de carga, têm seus serviços atrasados por caminhões presos no tráfego. Em resumo: a infraestrutura que temos em uma era nunca será a infraestrutura de que precisaremos na próxima.
Tente imaginar quantas mudanças transformadoras nossa infraestrutura ainda atravessará. Primeiro, porque nossas cidades estão se tornando cada vez maiores, com previsões de que 70% da população humana viverá nelas até 2050 – ou seja: nossa infraestrutura precisará ser dimensionada em grande escala. Em segundo lugar, porque muitas de nossas cidades estão enfrentando sérias ameaças devido às mudanças climáticas, já que mais de 90% de todas as áreas urbanas são costeiras – uma condição que exigirá infraestrutura adaptável e resiliente.
E, em terceiro lugar, porque a infraestrutura não é mais apenas física. Diversas tecnologias, incluindo inteligência artificial e realidade aumentada, estão obscurecendo as distinções entre o físico e o digital e começando a fundi-los – e nossa infraestrutura precisará operar dentro dessa nova realidade.
Dadas essas mudanças transformadoras, existem três tipos de qualidades que esperaremos encontrar na próxima geração de infraestrutura de transporte.
INTELIGENTE, TANTO NO VIRTUAL QUANTO NO CONCRETO
A infraestrutura física tende à rigidez. Por exemplo: muitos engarrafamentos são direcionais; as rodovias ficam congestionadas em uma direção no início do dia e, depois, novamente no final do dia, com as pistas na direção oposta ociosas, porque não podem ser flexionadas dinamicamente. Mas as tecnologias digitais podem ajudar a subverter essa rigidez.
Eles já estão se integrando à nossa infraestrutura de transporte. A biometria e a robótica já são comuns dentro dos aeroportos. As agências de transporte público mudaram para sistemas de pagamento sem dinheiro físico. Os departamentos de transporte começaram a usar drones para monitorar o tráfego nas rodovias. Essa tendência continuará, mas com a infraestrutura material sendo projetada desde o início para incorporar todos os recursos que as tecnologias digitais oferecem.
Como será essa nova infraestrutura, nativa digital? Aeroportos “pop-up” usarão a realidade aumentada para replicar marcações de navegação em pistas temporárias, impressas em 3D. Enquanto isso, sistemas de visão computacional vão gerenciar remotamente as operações da torre.
Da mesma forma, precisaremos de terminais de balsa que sejam capazes de alternar entre diferentes tipos de travessias, desde balsas com muitos veículos a bordo até outras com passageiros a pé, os transferindo para veículos compartilhados em espera. Esse tipo de terminal inteligente será um bom exemplo de como os veículos autônomos e compartilhados alteram nossas relações com os carros.
SUSTENTÁVEL: A MOBILIDADE SEM CARBONO
Associamos as emissões de carbono mais diretamente aos modais – carros, trens, aviões, trens, navios, etc. – e menos aos ambientes construídos para esses modais circularem. Por exemplo, podemos anunciar o impulso das vendas de veículos elétricos, ignorando que a energia do carvão ainda responde por quase 22% da geração de eletricidade nos Estados Unidos. Portanto, embora precisemos descarbonizar o transporte, também precisamos de infraestrutura que apoie essas opções livres de carbono, e que contribua com energia livre de carbono.
Há exemplos pioneiros dessa abordagem. Há quatro anos, a China construiu sua primeira rodovia com carregamento indutivo embutido para veículos elétricos. Os aeroportos estão cada vez mais interessados
em energia renovável no local, para garantir a confiabilidade e isolar seus custos de energia contra os altos e baixos dos mercados globais. Os trens na Holanda funcionam exclusivamente com energia eólica desde 2017. Essas mudanças em direção à infraestrutura de transporte construída em torno de energias renováveis
continuará à medida que o mundo se afastar dos combustíveis fósseis.
INTERMODAL: CENTRAIS PARA TRANSFERÊNCIAS ORQUESTRADAS
Nosso atual ecossistema de mobilidade é multimodal. Mas o nosso futuro ecossistema de mobilidade será INTERmodal. Esse futuro é uma inevitabilidade dos sistemas de transporte – que estão se tornando cada vez mais autônomos, conectados, elétricos e compartilhados. Esse futuro – em que os sistemas de transporte serão cada vez mais gerenciados por inteligência artificial – otimizará aquilo que as diferentes modalidades fazem de melhor.
Precisaremos de uma infraestrutura de transporte que evolua, para entregar esse futuro intermodal. E como será isso? Em largas pinceladas, a infraestrutura que que antes se dedicava a modalidades únicas se transformará em espaços intermodais. Os aeroportos continuarão facilitando a aviação comercial, mas seus estacionamentos evoluirão para centrais (hubs) dedicados a frotas de veículos autônomos e para pistas de terraço dedicadas a carros voadores (eVTOLs) ou até a dirigíveis de curta distância.
Metrôs e linhas de trem leve adicionarão carros dedicados à triagem da TSA, conectando-se aos ônibus que levarão os passageiros diretamente ao “setor aéreo” desses aeroportos. Mesmo aquilo que ainda chamamos de rodoviárias se transformará em hubs de calçada, para pedestres que se conectam a scooters e bicicletas ancoradas, veículos compartilhados e ônibus programados dinamicamente.
SOBRE O AUTOR
Devin é um futurista que trabalha em colaboração com clientes como Boeing, Intel, JW Marriott, Nike, Starbucks e Toyota para projetar futuros preferenciais em aviação, automotivo, cidades inteligentes, mobilidade pessoal e viagens espaciais.
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