Praia Mole lotada. Como pode uma praia ser tão linda? Areia bem branca, bem fofa. A água transparente, brilhante. O horizonte azul, absurdamente azul. Uma praia delimitada por conjuntos de pedras que levam a sonhar. “De um lado um dragão, do outro um índio”, como canta o Dazaranha, a banda manezinha que melhor traduz as belezas da Ilha. ‘Que lugar é esse?”, repetia para si mesma Luísa, a cada mergulho.
Muito antes de se tornar o point dos sarados das mais diversas orientações sexuais, a Mole sempre teve um público que respeitava a força da sua natureza. Praia de tombo, com ondas enormes já no raso. Praia de surfistas em buscas de ondas grandes e potentes e de mergulhadores em busca de garoupas, mas também de turistas, maravilhados com aquele cartão-postal bem na sua cara, como diria a Pabllo Vittar.
Naquela quarta-feira, fazia 40 graus. Luísa não estava muito segura para entrar na água, mas uns drinks tomados na areia e o calor escaldante foram os catalisadores daquele delicioso banho de mar. Seus amigos não quiseram entrar. Que delícia furar as ondas antes de estourarem, de boiar e se refrescar com aquela vista. Sem perceber, a correnteza a levou para longe do guarda-sol da sua turma.
A cada mergulho, quase perdia o biquíni. Quem usa muitas vezes o mesmo biquíni conhece a situação. Na areia, centenas de pessoas riam dela. Alguns veranistas filmavam a cena com deboche e lascívia. A garota estava sendo motivo de chacota sem se dar conta.
Esse comportamento tem até nome em alemão, schadenfreude: o prazer de ver os outros se ferrarem. Como há pessoas sádicas entre nós, prontas para externar o que têm de pior quando encontram um grupo. Quem age com a massa não é culpado sozinho. Não pensa, segue a manada.
Aí entra em cena Simone Butteli, pessoa incrível que tive a felicidade de conhecer. Simone e outra mulher, chocadas com o comportamento das pessoas na areia, convencem a garota a sair do mar e procurar seus amigos. Simone aproveita ainda sua grande rede para pedir às pessoas que eventualmente receberam as gravações para que não compartilhem.
E se a garota da água fosse sua filha, sua mãe, sua melhor amiga? Ou seu irmão, seu pai ou até mesmo aquele tio mala que passa o dia fazendo piadinha sem graça?
É tempo de ajudar uns aos outros. Falar de amor, desejar bons votos, discursar sobre empatia é fácil. Mas, e na prática, quantas pessoas entram no mar, estendem a mão e peitam uma multidão insensível?